Folha de S. Paulo


França começa a ocupar cidades da República Centro-Africana

O Exército francês começou nesta sexta-feira a operação militar na República Centro-Africana, ex-colônia francesa que enfrenta um conflito entre milícias islâmicas e cristãs. A intervenção foi autorizada na quinta (5) pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

Editoria de arte/Folhapress

Segundo o Ministério da Defesa francês, cerca de 1.200 soldados franceses deverão ser deslocados para o país para auxiliar os 3.600 membros das forças de paz da União Africana que tentam estabilizar a região há nove meses.

A missão dos militares franceses, que apoiam as forças africanas já presentes no país, é manter "a segurança mínima para que possibilitar uma intervenção humanitária, algo que hoje não é possível", disse o ministro Jean-Yves Le Drian.

De acordo com Le Drian, a meta é "levar segurança às ruas e aos principais itinerários para permitir que as pessoas possam chegar ao hospital".

Os primeiros 150 soldados chegaram nesta sexta à capital Bangui para tentar acalmar a situação, tensa desde quinta quando 92 pessoas morreram e 155 ficaram feridas em confrontos entre milícias católicas e as forças de segurança chefiadas pelo grupo islâmico Seleka.

Os Seleka assumiram o controle do país após derrubarem o presidente François Bozizé, em março.

Paris enviou no dia 26 de novembro cerca de 600 soldados ao país, a pedido do primeiro-ministro Nicolas Tiangaye. Durante a madrugada, outros 350 militares saíram de Iaundé, em Camarões, para a fronteira centro-africana, e devem entrar assim que receberem o aval de Hollande.

A ação militar é feita em meio a críticas ao presidente francês pelo envio de tropas ao Mali, em janeiro. A missão, que deveria ter durado seis meses, foi prolongada devido à atuação intensa dos grupos radicais islâmicos.

O prolongamento também é visto por Paris como uma forma de conter a presença de entidades vinculadas à rede terrorista Al Qaeda, cuja influência cresce nas regiões central e norte da África.

MORTES

A Cruz Vermelha na República Centro-Africana recolheu os corpos de 281 pessoas mortas durante dois dias de violência na capital do país, Bangui, disse o presidente da organização humanitária nesta sexta-feira.

Pastor Antoine Mbao Bogo disse que os funcionários tiveram que interromper os trabalhos ao anoitecer, mas que o número de mortos provavelmente subirá significativamente no fim de semana, quando as operações serão retomadas.

"Amanhã (sábado) vai ser um dia de monstro. Vamos trabalhar amanhã e acho que vamos precisar de um quarto dia também", disse ele.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, está "muito preocupado com a escalada da violência entre comunidades" na República Centro-Africana e fez um "apelo urgente" para que os civis sejam protegidos, indicou nesta sexta-feira seu porta-voz, Martin Nesirky.

O gabinete integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na RCA (Binuca) "ressaltou que as matanças continuaram durante a noite (de quinta para sexta-feira), causando um aumento do número" de vítimas, acrescentou Nesirky em um comunicado, sem dar número exatos.

"Segundo essas informações, antigos membros da Seleka e elementos anti-Balaka (milícias) invadiram casas e mataram adultos e crianças (...) e centenas de residências foram incendiadas em Bossangoa (oeste) após um ataque rechaçado pelos anti-Balaka", indicou.


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