Folha de S. Paulo


Análise: Acordo com Irã pode gerar corrida atômica na região

Visto com extrema desconfiança por Israel e pelos chamados países árabes moderados do Golfo Pérsico, o acordo nuclear que acaba de ser firmado entre Irã, os EUA e outras potências poderá provocar, no entender de inúmeros especialistas e observadores regionais, a deflagração de uma corrida armamentista atômica na região.

Para sauditas e israelenses, o Irã se configura hoje um perigo potencialmente mais tangível do que foi o Iraque de Saddam Hussein, cujas pretensões hegemônicas levaram-no a invadir o Kuait.

Esse temor é acompanhado pelos demais emirados, que temem a expansão político-religiosa xiita.

Esse teatro substancia as notícias recém-divulgadas de que a Arábia Saudita teria negociado com o Paquistão a aquisição de bombas atômicas como resposta ao alegado programa militar nuclear do Irã. Os mesmos rumores indicam que os sauditas vêm movimentando sistemas de mísseis capazes de disparar ogivas contra quem quer que os ameace no golfo.

Segundo o especialista em defesa e diplomacia da BBC Mark Urban, tido como um jornalista extremamente bem informado, existem indícios de que os sauditas já pagaram pelas bombas adquiridas do Paquistão, e esse material nuclear estaria pronto para ser despachado. Se essas informações forem corretas, é possível que o reino possua ogivas atômicas para os seus mísseis antes mesmo que o Irã adquira essa capacidade.

O ex-chefe do Serviço de Inteligência Militar de Israel general Amos Yadlin, citado pelo analista britânico, já havia declarado numa conferência na Suécia, mês passado, que os sauditas não se limitarão a esperar longo tempo para estarem preparados ao que consideram como séria ameaça de Teerã.

Um alto funcionário da Otan (a aliança militar ocidental) havia revelado a Urban no início deste ano que o Paquistão tinha prontas as armas nucleares a serem despachadas para o reino saudita. Desde 2009, Riad vem emitindo sinais claros de advertência a Washington de que não ficará impassível à transformação do Irã em potência nuclear militar.

Quanto a Israel, muito embora jamais admita possuir armamentos atômicos e insista oficialmente em que não será o primeiro país a introduzi-los no Oriente Médio, especula-se há muitas décadas que o Estado judeu teria cerca de 200 ogivas nucleares.

É o chamado "Complexo de Sansão", como afirmam os especialistas. "O gigante morre, mas o templo dos filisteus (inimigos) desaba e os destrói."

MÁRIO CHIMANOVITCH é jornalista e ex-correspondente de jornais brasileiros no Oriente Médio


Endereço da página: