Folha de S. Paulo


Acordo com Irã foi 'erro histórico', diz primeiro-ministro de Israel

O acordo interino estabelecido entre potências internacionais e o Irã foi recebido hoje, em Israel, como um desastre diplomático e estratégico.

Em reunião de gabinete, Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, afirmou que "o que foi decidido ontem à noite em Genebra não foi um acordo histórico, mas um erro histórico".

Na madrugada de domingo, o governo iraniano aceitou um acordo para conter suas atividades nucleares durante seis meses em troca do alívio das sanções econômicas impostas ao país.

Barack Obama, presidente dos EUA, disse em pronunciamento na noite de ontem que o resultado da negociação "torna o mundo mais seguro", numa posição que contraria os líderes israelenses.

Israel vinha, nas últimas semanas, pressionando os aliados para que não aliviassem as sanções contra o Irã. O governo de Netanyahu isolou-se a respeito dessa questão, aproximando-se de potências regionais como a Arábia Saudita e afastando-se da Europa, em severo desgaste diplomático.

"Hoje o mundo se tornou um lugar muito mais perigoso, pois o regime mais perigoso do mundo tomou um passo importante na direção de obter a arma mais perigosa do mundo", disse o premiê, referindo-se à suposta intenção bélica do Irã de desenvolver um arsenal nuclear.

Netanyahu reforçou, também, a posição de Israel nas últimas semanas de que o país "não está preso a esse acordo". "O regime iraniano está comprometido com a destruição de Israel, e Israel tem o direito e a obrigação de se defender."

Fabrice Coffrini/AFP
Os ministros das Relações Exteriores do Irã, China, Estados Unidos, Rússia e França em encontro em Genebra, na Suíça
Os ministros das Relações Exteriores do Irã, China, Estados Unidos, Rússia e França em encontro em Genebra, na Suíça

Shimon Peres, presidente de Israel, divulgou também um comunicado a respeito dos acordos estabelecidos em Genebra. "A comunidade internacional não irá tolerar um Irã nuclear", afirmou. "Se o caminho diplomático falhar, a opção nuclear será prevenida por outros meios. A alternativa é muito pior."

Para o chanceler Avigdor Lieberman, "como sempre, todas as opções estão na mesa". Ele indicou, também, que Israel irá buscar aliados para além dos EUA e que vai passar a "assumir a responsabilidade a despeito da posição americana". Há receio de que Israel escolha a via militar.

O especialista Ephraim Asculai, pesquisador no Instituto para Estudos de Segurança Nacional de Israel, afirma que, apesar das vitórias do acordo interino, a notícia não é positiva à região.

"Os Estados do Golfo estão tão preocupados quanto Israel. A maior preocupação deles não foi resolvida, que era estabelecer um acordo em que o Irã não seja capaz de produzir armas nucleares", diz, durante coletiva de imprensa da qual a reportagem da Folha participou.

Editoria de arte/Folhapress

RECEPÇÃO

Na noite deste domingo, centenas de simpatizantes receberam os negociadores iranianos quando eles retornaram ao Teerã.

A multidão, composta em sua maioria por estudantes, aclamava ao mesmo tempo o Primeiro Ministro iraniano e seu maior negociador nuclear, o "Embaixador da Paz". Eles acenavam flores e bandeiras iranianas.

Entre o público estavam as famílias dos cientistas nucleares que foram assassinados, assim como legisladores e outros oficiais.

As pessoas cantavam "não a guerra, sanções, rendições e insultos" e "temos o equivalente a oito anos de gratidão", em referência aos oito anos de relações ruins que o Irã teve com o Ocidente enquanto o presidente Mahmoud Ahmadinejad estava no poder.

No último domingo, Teerã concordou com uma pausa de seis meses do seu programa nuclear enquanto os diplomatas continuam as negociações. Observadores internacionais estão programados para monitorar instalações nucleares do Irã enquanto o Ocidente alivia cerca de US$ 7 bilhões em duras sanções econômicas à República Islâmica.


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