Folha de S. Paulo


Kennedy teria sido reeleito com facilidade um ano depois de sua morte

John Kennedy morreu 11 meses e 19 dias antes da eleição de 1964, na qual pretendia reeleger-se. As últimas pesquisas sobre sua avaliação mostravam aprovação de 58% --nada má para um presidente um ano antes da votação.

Kennedy teve grandes momentos em 1963, em especial o "discurso da paz", em 10 de junho, quando anunciou que os EUA suspenderiam todos os testes nucleares e desafiou as outras potências a fazerem o mesmo, e o célebre discurso em Berlim, de 26 de junho, defesa enfática da democracia e do capitalismo contra o comunismo.

Mas enfrentava adversidades na política interna, especialmente no Sul do país, território tradicionalmente dominado pela ala mais conservadora do seu partido, o Democrata.

A maioria branca no Sul estava indignada com Kennedy e seu irmão Robert, ministro da Justiça, pelo apoio, não raro armado, que deram à integração racial em escolas públicas.

Dizia-se que Lyndon Johnson, líder democrata conservador do Texas, o mais importante Estado do Sul, poderia ser substituído como vice em 1964.

Robert Kennedy já se opusera à inclusão de Johnson na chapa em 1960 e o preferiria fora dela em 1964. Havia alegações de corrupção que poderiam prejudicar muito a imagem de Johnson se fossem apuradas. Mas provavelmente o realismo político de John Kennedy o teria feito manter Johnson como vice.

A vitória de Kennedy em 3 de novembro de 1964 era muito provável. O Partido Republicano, de oposição, entrara na sua primeira onda de radicalismo de direita e estava sob o controle de Barry Goldwater, espécie de precursor mais moderado do Tea Party atual.

Johnson bateu Goldwater com 61% dos votos populares e 486 dos 538 votos eleitorais. Talvez Kennedy tivesse tido menos votos eleitorais, mas as chances de Goldwater tê-lo derrotado eram ínfimas.

Reeleito, como teria Kennedy governado? Talvez a aprovação das leis de direitos civis tivesse sido mais difícil do que foi com Johnson, que lidava com o Congresso melhor que Kennedy e teve a aura de apoio que o assassinato do presidente lhe concedeu.

No Vietnã, talvez Kennedy não se envolvesse tanto quanto Johnson, mas provavelmente a diferença seria mais de estilo que de conteúdo. Por exemplo, semanas antes de morrer, Kennedy autorizou o golpe de Estado que resultou na morte do presidente sul-vietnamita Ngo Dinh Diem.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é editor da revista "Política Externa".


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