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Saiba mais: poucos miligramas do Polônio-210 podem matar

Sete anos atrás, Alexander Litvinenko, crítico do Kremlin e espião aposentado russo, se encontrou com dois compatriotas em um hotel londrino. O que aconteceu a seguir foi um dos mais ousados homicídios da era moderna.

Relatório de médico suíços aponta morte de Yasser Arafat por envenenamento

De acordo com a promotoria britânica, os homens que se encontraram com Litvinenko, Andrei Lugovoi e Dmitry Kovtun, colocaram uma substância transparente e inodora no chá que Litvinenko estava bebendo. Não uma grande quantidade, mas o bastante para fazê-lo morrer em agonia três semanas mais tarde, no hospital do University College.

A substância era o polônio-210, um isótopo raro e altamente radiativo que uma equipe suíça identificou no cadáver exumado de Yasser Arafat. É um material extremamente difícil de detectar.

Editoria de Arte/Folhapress

Os cientistas só identificaram a presença do composto no corpo de Litvinenko horas antes de sua morte. Antigo agente do FSB, o serviço de espionagem russo, e abstêmio, Litvinenko era devoto dos exercícios físicos. Os médicos afirmam que só resistiu por tanto tempo ao veneno por estar em excelente forma. Caso ele tivesse morrido antes, a causa do óbito provavelmente não teria sido descoberta.

O polônio-210 ocorre em concentrações muito baixas naturalmente, mas é fabricado para uso em instalações industriais, com o objetivo de impedir o acúmulo de eletricidade estática.

É um veneno efetivo e conveniente. Emite partículas alfa puras, que do lado de fora do corpo podem ser detidas por uma simples folha de papel. Mas caso ingerido, causa danos extensos ao passar pelos órgãos. A radiação libera energia, que cria partículas reativas conhecidas como radicais livres. Estas por sua vez formam compostos tóxicos mortíferos para as células adjacentes.

Porque o polônio só emite partículas alfa, pode ser transportado seguramente em cápsulas de vidro e não aciona os detectores de radiação em aeroportos. Quando ingerido, é difícil de detectar, porque toda a radiação permanece no corpo. Uma dose de poucos miligramas pode ser letal, e é possível administrá-la em forma de pó ou dissolvida em um líquido.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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