Folha de S. Paulo


Análise: Morte de líder do Taleban é alento para criticado programa dos EUA

Se confirmada, a morte de Hakimullah Mehsud é uma notícia e tanto para o criticado programa de ataques com drones dos Estados Unidos.

Há duas semanas, as principais ONGs de direitos humanos do mundo, Anistia Internacional e Human Rights Watch, divulgaram relatórios duros contra mortes de civis causadas por aviões-robôs.

O Paquistão, embora apoiasse tacitamente as ações durante um bom tempo, sempre foi crítico dos tais "danos colaterais". Curiosamente, na quarta-feira passada, o país contabilizou apenas 67 civis mortos desde 2008. ONGs que monitoram o tema falam em mais de 300.

A provável morte de Mehsud reforça os argumentos dos defensores da precisão dos ataques com drones. Ele era um radical temido.

Nascido provavelmente em 1979, Hakimullah é da tribo pashtun Mehsud, influente nas áreas do Waziristão do Sul e do Norte. Replicava o estilo dos pares: cabelos longos e barba à la Che Guevara.

O seu Taleban paquistanês, o TTP (Tehrik-i-Taleban Pakistan, ou Movimento dos Estudantes do Paquistão, entendendo-se aqui que o objeto do estudo é Alcorão), é um grande guarda-chuva para diversos movimentos militantes islâmicos das áreas junto à fronteira afegã.

Embora tenha tido contatos na origem e siga com conexões esporádicas, o TTP não é ligado ao irmão mais famoso do Afeganistão.

O Taleban afegão surgiu com a guerra civil que seguiu o fim da ocupação soviética (1979-89). Com o abandono dos EUA, satisfeitos com a derrota de Moscou, o Paquistão quis ampliar sua influência regional.

Como já fomentava grupos militantes para atacar indiretamente alvos da rival Índia na disputa pela região da Caxemira, engordou o Taleban.

O movimento ganhou solo entre pashtuns do sul e do leste afegão, tomando Cabul em 1996. O resto é história: a criação de um regime medieval islâmico, o abrigo dado à Al Qaeda de Bin Laden, o 11/9/2001 e a queda após retaliação dos EUA.

Já o TTP é a amálgama de grupos apoiados pelos serviços secretos paquistaneses. Reprimidos após o apoio dado por Islamabad à guerra dos EUA, unificaram-se em 2007 sob Baitullah Mehsud, que era próximo, mas não parente de Hakimullah.

Protagonizaram sangrentos atentados, e a vítima mais famosa foi a ex-premiê Benazir Bhutto, morta em 2007. Um drone explodiu Baitullah em 2009. Agora, parece ter sido a vez de seu sucessor.


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