Folha de S. Paulo


Líderes estudantis atraem atenção em eleição chilena

Dois anos atrás, Giorgio Jackson estava na vanguarda dos maiores protestos acontecidos no Chile desde o final da ditadura de Pinochet, com centenas de milhares de estudantes nas ruas em apoio à educação superior gratuita.

Agora, Jackson, 26, está disputando uma eleição --em meio a outros antigos ativistas universitários que esperam saltar das ruas para os corredores do Legislativo.

A eleição presidencial e legislativa acontece em 17 de novembro, e as pesquisas sugerem que Jackson --sem partido-- deve ser eleito.

Duas outras ativistas, Camila Vallejo e Karol Cariola --ambas do Partido da Juventude Comunista--, também devem vencer.

"Para aqueles de nós que lutaram por tanto tempo [pela educação], importa ser agentes, e não apenas espectadores", diz Jackson.

Martin Bernetti/AFP
Camila Vallejo, 25, líder que quer cadeira no Legislativo
Camila Vallejo, 25, líder que quer cadeira no Legislativo

Se eleitos, os líderes estudantis estarão na vanguarda dos diversos movimentos sociais que vêm abalando o cenário político chileno nos três últimos anos.

Não só universitários mas também líderes sindicais e ambientalistas estão buscando postos políticos, e uma chance de conduzir vozes novas a um Legislativo há muito dominado por figurões dos partidos tradicionais e por acordos escusos.

O tumulto nas ruas e as brigas internas da direita abalaram a coalizão governista Alianza, abrindo caminho para o retorno da socialista Michelle Bachelet, a primeira mulher a presidir o Chile, de 2006 e 2011.

Bachelet, pediatra e até recentemente diretora do programa da ONU para a mulher, deve vencer com facilidade a disputa presidencial, e sua popularidade pode ajudar a eleger uma chapa de outros candidatos progressistas menos conhecidos.

"Esse novo bloco que vem de movimentos sociais diferentes pode formar uma frente comum", diz Jackson. "Temos muitas questões em torno das quais nos unir".

HEROÍNA

Vallejo, ex-presidente da união dos estudantes da Universidade do Chile, diz que a eleição de líderes estudantis "não só demonstrará que os movimentos sociais podem e devem ter seus representantes no Congresso como tornará possível construir espaços políticos que nos permitirão realizar as mudanças estruturais que a sociedade exige".

Com piercing prateado no nariz e referências a Karl Marx e Fidel Castro, Vallejo se tornou uma heroína moderna. Em Santiago, a capital chilena, as galerias vendem retratos dela, e pichações em apoio à sua candidatura se espalham pelas ruas.

O fato de que Vallejo, 25, seja membro do Partido Comunista há muito atrai críticas dos políticos e comentaristas chilenos. Mas sua efetividade como líder estudantil e ativista lhe valeu respeito e ao menos 747 mil seguidores no Twitter.

No entanto, a ala direita da política chilena ainda desconsidera Vallejo e o seu ativismo político.

"Esse novo tipo de liderança faz mal ao país", diz Victor Pérez, senador do partido UDI. "Estou certo de que a maioria dos chilenos vai punir essa forma de política na qual as aspirações do cidadão são manipuladas e na qual o objetivo não é o progresso social mas sim o avanço de projetos pessoais."


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