Folha de S. Paulo


Após falar com Obama, presidente chega ao Irã com festa e protesto

Centenas de iranianos foram ao aeroporto de Teerã neste sábado para receber o presidente Hasan Rowhani, que voltava da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. O chefe de governo iraniano foi aplaudido e quase atingido por sapatos jogados por radicais islâmicos.

Os manifestantes chegaram ao local horas após Rowhani conversar por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Foi o primeiro contato entre chefes de governo americanos e iranianos desde a Revolução Islâmica, em 1979.

A polêmica conversa entre o iraniano e o americano despertaram reações duplas. Assim que a comitiva do presidente deixou o aeroporto, cerca de cem militantes conservadores gritavam "morte aos Estados Unidos" e "morte a Israel". Alguns deles atiraram ovos, pedras e sapatos ao carro presidencial.

Enquanto isso, outros 300 partidários do presidente o agradeciam por sua atitude, considerada uma guinada em relação aos oito anos de tensão provocada pelo discurso de seu antecessor, o conservador Mahmoud Ahmadinejad, que negava o Holocausto e ameaçava os Estados Unidos e Israel.

Até o momento, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, não se pronunciou sobre o telefonema. O presidente do Parlamento iraniano, o conservador Ali Larijani, declarou que os Estados Unidos devem mostrar através de ações que sua política externa mudou.

"O tom das autoridades americanas mudou nos últimos dias, mas devem provar por atos que sua política em relação ao Irã realmente mudou".

"Esse telefonema mostra que o lugar do Irã no mundo é de suma importância. A insistência do presidente americano em uma ligação telefônica [com o presidente iraniano] é um sinal de sinceridade", afirmou Aladeen Borujerdi, presidente da Comissão de Segurança Nacional e Relações Exteriores do Parlamento.

Por causa da conversa entre Rowhani e Obama, a moeda iraniana, o rial, subiu mais de 2% no mercado de câmbio, após intensa e longa desvalorização provocada pelas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e a União Europeia.

CONVERSA

Na saída do aeroporto, Rowhani afirmou que não negou um encontro entre ele e Obama na Assembleia-Geral da ONU, como cogitado desde o início dos discursos, na terça (24). O presidente iraniano alega que faltou tempo para que ela fosse coordenada.

"Para uma reunião entre os presidentes desses dois países, são necessários diversos passos. Se esse encontro fosse apertado neste programa, ele poderia ter sido prematuro", disse Rowhani, segundo a agência de notícias Mehr.

Ele afirmou que a iniciativa do telefonema partiu de Obama, enquanto fontes americanas haviam dito que a ideia de contato veio de Rowhani. "Nós estávamos indo para o aeroporto, quando fui informado de que a Casa Branca tinha telefonado ao nosso embaixador na ONU dizendo que Obama queria conversar comigo".

Na conversa de 15 minutos, o iraniano disse ter defendido a posição do Irã na questão nuclear e o diálogo entre Teerã e as potências, que deve ser retomado em outubro.

"Não acredito que estamos sob pressão ou cansados de resistir [sobre a questão nuclear]. Pelo contrário. A única solução para os Estados Unidos é parar de usar a linguagem da ameaça", acrescentou.


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