Folha de S. Paulo


Dilma não deve ir a encontro com Obama

A presidente Dilma Rousseff deve cancelar a reunião com o presidente americano Barack Obama, marcada para ocorrer no dia 23 de outubro.

A decisão, que ela já estava propensa a tomar após revelações de espionagens feitas no Brasil pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA), foi reforçada na sexta-feira, em encontro com o conselho político informal com o qual costuma se reunir.

A viagem, anunciada em maio, seria a única visita de Estado de um presidente estrangeiro aos EUA neste ano. E a primeira de um brasileiro em quase duas décadas.

Jewel Samad - 6.set.13/AFP
Barack Obama conversa com Dilma Rousseff na cúpula do G20, na Rússia; encontro entre os presidentes aconteceu no início de setembro
Barack Obama conversa com Dilma Rousseff na cúpula do G20, na Rússia; encontro entre os dois aconteceu no início de setembro

Categoria diplomática mais alta concedida a estrangeiros, a visita de Estado é reservada a parceiros estratégicos mais próximos dos EUA e implica em formalidades como um jantar de gala na Casa Branca e uma cerimônia militar na chegada.

Nem Lula recebeu a honraria. O último líder brasileiro a fazer uma visita assim foi Fernando Henrique, em 1995.

Na reunião de sexta, na Granja o Torto, além de Dilma, estavam presentes o ex-presidente Lula, os ministros Aloizio Mercadante (Educação), José Eduardo Cardozo (Justiça), o presidente do PT, Rui Falcão, o ex-ministro das Comunicações Franklin Martins, o publicitário João Santana e o chefe do gabinete presidencial, Giles Azevedo.

Ali, Dilma comunicou que já decidira não fazer a visita de Estado. Todos apoiaram a decisão, sobretudo Lula.

Hoje, a assessoria da Presidência procurou a Folha para informar que não há uma definição sobre o cancelamento da viagem.

Os EUA não pediram desculpas e não deram explicações convincentes sobre a espionagem no Brasil, que atingiu a comunicação da própria presidente com auxiliares. O país chegou a dar a entender que manteria a prática de monitorar o Brasil.

RELATO DETALHADO

De acordo com um auxiliar direto de Dilma, a presidente ainda terá uma conversa com o chanceler Luiz Alberto Figueiredo, na terça-feira, antes de sacramentar a decisão.

Figueiredo esteve nesta semana em Washington para uma reunião com representantes do governo Obama e fará um relato detalhado da sua conversa à presidente.

Mas a possibilidade de Dilma manter a viagem aos EUA, a essa altura, é extremamente remota, de acordo com o mesmo auxiliar.

"Ela já queria cancelar a viagem e está praticamente decidida. A não ser que os EUA apresentem alguma explicação clara, o que até agora não ocorreu".

Para que Dilma mantivesse o encontro, "seria preciso Obama vir ao Brasil pedir desculpas, ou algo equivalente", nas palavras do interlocutor de Dilma com quem a Folha checou a informação.

SOBERANIA

Dilma afirmou que o caso de espionagem é uma questão de soberania nacional.

Ela disse que só anunciará oficialmente sua decisão sobre a viagem após o encontro com Figueiredo. A Folha apurou que Dilma não pretende estender a questão.

Segundo interlocutores, a presidente disse que será firme contra os casos de espionagem, mas que sabe que há limites para sua reação, tendo em vista as relações bilaterais com os Estados Unidos.

As denúncias sobre Dilma Rousseff e a Petrobras terem sido alvo de espionagem pela NSA surgiram em reportagens no programa "Fantástico", da TV Globo, neste mês.

As revelações partiram de documentos secretos obtidos pelo jornalista Glenn Greenwald com Edward Snowden, ex-técnico da NSA, asilado na Rússia. Os papéis mostraram que a comunicação entre Dilma e assessores foi monitorada pela agência americana.


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