Folha de S. Paulo


Senado vai instalar CPI para investigar espionagem contra Dilma

O Senado deve instalar amanhã CPI (comissão parlamentar de inquérito) para investigar a espionagem realizada pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos) no Brasil. A comissão foi criada há mais de um mês, mas só deve ser efetivamente instalada depois das denúncias de que a presidente Dilma Rousseff foi alvo direto das investigações da agência americana.

Os senadores marcaram para amanhã a instalação da CPI, com a escolha do seu presidente e relator. A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) deve ser eleita para presidir os trabalhos da CPI --que terá que investigar se houve, de fato, ações de espionagem sobre o governo e cidadãos brasileiros.

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Os senadores também articulam aprovar voto de censura contra o governo dos Estados Unidos pelas ações de espionagem da agência americana que teriam atingido a presidente. Líder do governo, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) apresentou o pedido de voto de censura nesta segunda-feira. O plenário tem que aprová-lo para que seja formalmente encaminhado ao governo dos Estados Unidos, o que deve ocorrer amanhã.

"O voto de censura é o que o parlamento tem de mais forte na relação diplomática. A minha indignação vai além à solidariedade ao governo. Nós brasileiros precisamos ser respeitados. A título de manter um certo equilíbrio mundial, não se pode tudo", afirmou Braga.

Senadores se revezaram na tribuna da Casa nesta segunda-feira para criticar a espionagem americana. Braga disse que o governo do presidente Barack Obama tem que responder por "atos da nação", mesmo que seu governo não esteja diretamente envolvido na espionagem.

O líder do governo considerou "estranho" que as manifestações populares no Brasil e na Turquia, que ocorreram nos últimos meses, tenham acontecido em meio à divulgação das ações da NSA. "Milhares de brasileiros foram às urnas e nossas informações nas redes sociais sendo devastadas? O que está por detrás desses movimentos nas redes sociais, que não é aleatório, é técnico, orquestrado, com absoluta estratégia de informação, de diplomacia comercial, invasão da soberania, desrespeito ao cidadão", disse o líder governista.

A senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) afirmou que os Estados Unidos não podem "ousar tanto" ao violar acordos internacionais e violar informações internas de outros países.

"O Brasil não é república de bananas. Não há uma nação que possa se sentir dona do mundo. Os EUA são nação importante no contexto internacional, mas isso não dá o direito a esta nação ao fazer qualquer tipo de violação aos direitos internacionais e aos direitos individuais e coletivos de qualquer cidadão, muito menos da presidente da República", disse.

Para o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), o governo brasileiro precisa adotar medidas "duras" contra as ações conduzidas pela NSA --como o cancelamento da viagem da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos, programada para outubro. "O voto de censura é uma medida dura, mas precisamos fazer mais. Sugiro à presidente cancelar sua visita. O governo também precisa investir mais em ciência e tecnologia, na área cibernética, os recursos não são executados integralmente", disse.


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