Folha de S. Paulo


Presidente russo defende regime sírio e desafia EUA a provar ataque

O presidente russo, Vladimir Putin, chamou de "absurdo total" as acusações de uso de armas químicas por parte do regime sírio e pediu aos EUA que apresentem provas quanto à responsabilidade por um suposto ataque químico ocorrido no subúrbio de Damasco no último dia 21.

Naquele dia, centenas de pessoas morreram com sintomas de contaminação por gás, conforme relatos de testemunhas.

Ontem (30), os EUA divulgaram um relatório de sua própria inteligência segundo o qual naquele dia houve um ataque químico que matou 1.429 pessoas, sendo 426 crianças. O relatório afirma de que não há dúvidas de que apenas o regime --e não os rebeldes que lutam por sua deposição-- teria capacidade de lançar um ataque dessa escala.

"Em uma situação em que o Exército sírio estava em posição ofensiva, cercando a oposição em várias regiões, afirmar que o governo sírio usou armas químicas é absurdo total", declarou Putin à imprensa em Vladivostok. "Estou convencido de que isso não passa de uma provocação daqueles que querem envolver outros países no conflito sírio e assegurar o apoio de atores internacionais poderosos, em primeiro lugar, o dos EUA."

Foi a primeira reação pública de Putin sobre as declarações da inteligência americana.

Alexei Nikolskyi/Reuters
O presidente russo, Vladimir Putin, diz a jornalistas, em Vladivostok, que quer ver provas dos EUA sobre ataque químico sírio
O presidente russo, Vladimir Putin, diz a jornalistas, em Vladivostok, que quer ver provas dos EUA sobre ataque químico sírio

O russo pediu que Washington apresente as provas que diz ter e destacou que a "interceptação de conversas não pode servir de base para a tomada de decisões fundamentais, em especial sobre o recurso à força contra um Estado soberano", em uma referência a grampos que os EUA teriam de oficiais sírios falando sobre um ataque químico. "As alusões de que [os EUA] têm essas provas, mas que são secretas e, por isso, não podem ser apresentadas a ninguém não se sustentam. É simplesmente uma falta de respeito com seus aliados", disse Putin.

"Sobre a posição de nossos amigos americanos, que afirmam que as tropas governamentais [sírias] utilizaram armas químicas e dizem ter provas, então, que mostrem aos investigadores das Nações Unidas e ao Conselho de Segurança", disse. "Se há provas sobre o uso de armas químicas, estas devem ser apresentadas. Se não forem apresentadas, é porque não existem."

Moscou, aliada do ditador sírio, Bashar al-Assad, acusa os rebeldes de usar armas químicas para desacreditar o governo.

Os EUA e a França estão determinados a lançar uma ação contra o regime sírio. Anteontem (29), o Parlamento britânico rejeitou a participação do Reino Unido nos planos, dada a falta de provas consistentes quanto à autoria do ataque. Foi uma grande derrota para o premiê David Cameron.

Na entrevista, Putin elogiou a decisão "inesperada" dos parlamentares britânicos. "Isso significa que, mesmo no Reino Unido, o principal aliado geopolítico dos EUA, há pessoas que são guiadas por interesses nacionais, pelo bom senso e que defendem a soberania", disse. "Para mim, isso foi totalmente inesperado. Todo o mundo está acostumado a ver a sociedade ocidental aceitar tudo, sem maiores questionamentos, conforme os desejos do seu principal parceiro, os EUA."


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