Folha de S. Paulo


Montreal vive crise depois de perder dois prefeitos suspeitos

Quando Michael Applebaum, 50, assumiu a Prefeitura de Montreal, em novembro de 2012, renovou as esperanças de muitos canadenses que se mostravam fartos com a corrupção que assolava a Província de Québec.

Mas quando Applebaum foi preso, na própria prefeitura, oito meses depois, ninguém mais tinha palavras para descrever o que estava acontecendo na cidade.

Com 1,7 milhão de habitantes, Montreal é a segunda maior cidade do Canadá, atrás de Toronto.

A renúncia do prefeito e a prisão do interino, meses depois, abalou as estruturas políticas de um país até então considerado um dos menos corruptos do mundo.

Ex-corretor de imóveis, Applebaum entrou para a política em 1994, eleito ao Conselho Municipal. Em 2001, foi eleito prefeito de uma municipalidade de Montreal.

Sua ascensão ganhou impulso graças ao prefeito, Gérald Tremblay, que o indicou pro Comitê Executivo de Montreal, um colegiado que controla o orçamento e leis municipais. Dois anos depois, Tremblay promoveu Applebaum a chefe do grupo.

O prefeito renunciou em novembro do ano passado, sob acusações de corrupção --que ele nega.

Applebaum assumiu interinamente, tornando-se o primeiro prefeito anglófono na francófila Québec em cem anos e o primeiro judeu a ocupar o cargo.

Hoje, Applebaum responde --em liberdade-- a 14 acusações, boa parte ligada à corrupção em contratos com empreiteiras, além de fraude, quebra de confiança, pagamentos secretos e até mesmo conspiração.

Sua apresentação e defesa à Justiça terão início no dia 9 de outubro.

Em novembro haverá nova eleição municipal e, até lá, a cidade segue comandada por Laurent Blanchard, um ex-publisher de jornais comunitários que tornou-se político e ganhou o posto, temporariamente, por indicação do colegiado local.

CAUTELA

Blanchard tem adotado um estilo bem mais discreto do que os antecessores enquanto, a cada semana, surgem novas revelações da crescente presença e infiltração da máfia italiana no poder público de Québec, principalmente na construção civil.

Em agosto passado, Blanchard se viu obrigado a conceder novos contratos emergenciais para duas empreiteiras --BPR e SNC-Lavalin-- cujos principais executivos admitiram, na Justiça, que estavam envolvidos na rede de corrupção investigada.

Ele convocou toda a imprensa para explicar as suas razões, resumindo que, simplesmente, não havia outra opção. "É desagradável, estranho e embaraçoso", disse.

De acordo com o novo prefeito interino, os gastos são referentes a reparos emergenciais na cidade que não podem esperar pela conclusão final dos inquéritos.

Os contratos firmados tinham os valores de, respectivamente, US$ 500 mil e US$ 800 mil. E a prefeitura já anunciou um novo pacote de US$ 2,2 bilhões para obras de infraestrutura para os próximos três anos.


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