Folha de S. Paulo


EUA dizem que regime sírio fez ataque químico que matou 426 crianças

Os Estados Unidos afirmam que foi o regime de Bashar al-Assad que preparou o ataque químico contra os rebeldes, de acordo com relatório divulgado nesta sexta-feira. A preparação para o bombardeio teria começado em 18 de agosto, três dias antes do ataque e na data em que chegaram os inspetores da ONU.

Segundo Washington, 1.429 pessoas morreram no ataque químico, sendo 426 crianças. Os números são maiores que os cerca de 1.300 revelados pelos rebeldes e os 355 mortos que a organização Médicos sem Fronteiras disse que houve.

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O relatório informa que a preparação das tropas começou no dia 18, em Adra, subúrbio de Damasco dominado pelo regime. Os militares misturaram diversos tipos de armas químicas para o bombardeio. Dentre os agentes usados, está o gás sarin, capaz de alterar o sistema nervoso, provocando espasmos e convulsões até a morte.

Os agentes também teriam recebido implementos para enfrentar o ataque, incluindo máscaras de gás. A partir de informações de inteligência e fotos de satélite, os Estados Unidos determinaram que o bombardeio partiu de uma área dominada pelo regime e atingiu 12 subúrbios da região de Ghouta.

Os relatos dos rebeldes nas redes sociais começaram 90 minutos após o lançamento e aumentaram, com a inclusão de imagens dos corpos e dos feridos em convulsão. A internet contribuiu para que Washington determinasse a amplitude do ataque.

A investigação ainda foi balizada fontes da inteligência americana em campo, médicos sírios, testemunhas, informações de redes sociais, jornalistas e ONGs confiáveis, como a Médicos sem Fronteiras. No documento, o governo americano afirma que alguns dados não foram revelados para preservar as fontes.

MOTIVO

Para os Estados Unidos, a intenção do regime era tentar acabar com o domínio dos rebeldes na região de Ghouta, uma das poucas da periferia de Damasco que não haviam sido retomadas pelos meios já usados pelo regime --bombardeios aéreos e ações terrestres com o auxílio do grupo radical libanês Hizbullah.

Com a falha dos métodos tradicionais, as tropas de Assad preferiram apostar nos gases venenosos, que eram aplicados em menor escala em outras áreas do país desde o início do ano.

O governo americano descartou que a oposição tenha atacado a região pela falta de indícios da preparação dos rebeldes. O governo do presidente Barack Obama também não acredita que os vídeos com as vítimas e os relatos nas redes sociais tenham sido fabricados.

"Nós concluímos que a oposição síria não tem a capacidade para fabricar todos os vídeos, sintomas físicos verificados por equipes médicas e ONGs e outras informações associadas com esse ataque químico", afirma o texto.

RESPOSTA

O Ministério das Relações Exteriores da Síria reagiu ao anúncio de Kerry através de um comunicado, em que classifica de "cifras fictícias" o número de vítimas do ataque e diz que as provas são inventadas. "O que o governo americano classificou de provas irrefutáveis (...) são apenas antigas histórias difundidas pelos terroristas (modo como se referem aos rebeldes) há mais de uma semana, com tudo o que elas comportam de mentiras, de fabricações e de histórias inventadas", diz o texto lido na televisão síria.

O Ministério também se disse "surpreso" pelo fato dos EUA "enganarem a opinião pública de forma ingênua, com provas que não existem", e basearem suas posições de guerra e de paz pelo que é "transmitido nas redes sociais e nas páginas da internet".

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

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