Folha de S. Paulo


"Espero que quem me ajudou não tenha problemas", diz senador boliviano

O senador boliviano Roger Pinto Molina, 53, afirma que a decisão de tirá-lo da embaixada brasileira em La Paz, onde ficou por quase 15 meses, foi tomada por questões "humanitárias", em razão da deterioração da saúde dele.

Em entrevista por telefone à Folha, Molina disse desconhecer de quem foi a decisão e o planejamento para a operação de retirada dele da Bolívia. Ele disse apenas que foi informado pelo encarregado de negócios do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia, de que viria ao Brasil.

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Sobre seu futuro político, afirma querer "encontrar a tranquilidade", após passar por uma "perseguição atroz".

Leia abaixo trechos da entrevista.

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Martín Alipaz - 21.mai.2009/Efe
O senador boliviano Roger Pinto Molina, em foto de arquivo
O senador boliviano Roger Pinto Molina, em foto de arquivo

Folha - Por que o senhor saiu da embaixada do Brasil em La Paz?
Roger Pinto Molina - Foram 455 dias duros, em condições precárias.

Por que precárias?
Precárias porque não havia ventilação, luz do sol, contato com outras pessoas. Eu tinha contato com quatro, cinco pessoas. Esse isolamento e a falta de sol e de boa ventilação vai piorando a saúde.

Que problemas de saúde o senhor tem?
Tive problemas de garganta, de defesa [imunológica], doenças que prefiro manter como particulares. Minha saúde em geral foi piorando.

Editoria de Arte/Folhapress

Quem tomou a decisão de tirá-lo da embaixada?
As pessoas da embaixada, para preservar a minha vida. Isso foi feito com base em exames médicos. Na Bolívia não havia condições de ir a um hospital em que não houvesse controles. Ir a um hospital significaria acabar com minha liberdade e talvez com a minha vida.

Mas quem exatamente tomou a decisão?
Não conheço esse nível de detalhes. Eu não tomava decisões. Eu fui comunicado de que, por motivos humanitários e de saúde [deixaria a embaixada].

Quem comunicou o senhor sobre a decisão?
O encarregado da representação Saboia [Eduardo Saboia, encarregado de negócios do Brasil em La Paz].

O que disseram ao senhor?
Que para preservar a minha vida haviam tomado a decisão de iniciar o planejamento [para a operação]. Nos últimos dez dias, houve uma aceleração na decaída da minha saúde física, mental e psicológica, principalmente.

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que vai abrir uma investigação sobre seu caso. O senhor teme que alguém da embaixada sofra consequências por causa disso?
Eu desconheço qualquer problema que possa ser gerado [pela operação de saída]. Espero que alguém que fez um ato humanitário não tenha problemas, alguém que de maneira acertada tomou a decisão.

O que o senhor pretende fazer no Brasil? Pretende continuar na política?
Estou à disposição das autoridades. Tenho um convite para ir ao Senado na terça-feira. Vou tentar me colocar à disposição das autoridades brasileiras para legalizar minha situação. Quero encontrar minha família e melhorar a minha vida. No aspecto político, quero encontrar a tranquilidade. Eu sofri uma perseguição atroz, violenta, e agora quero tranquilidade.

O senhor teme ser extraditado para a Bolívia?
Eu recebi um asilo político da presidente Dilma. Não há possibilidade de que isso se reverta.

O senhor teme que o caso provoque uma crise diplomática entre o Brasil e a Bolívia?
Não posso opinar sobre isso. Posso dizer que sofria risco de vida, pedi ajuda ao Brasil e obtive refúgio político. Isso não deveria causar nenhum incômodo à antiga relação entre os dois países.


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