Folha de S. Paulo


'Espero que o governo brasileiro faça alguma coisa', diz brasileiro detido em Londres

Após ser detido como suspeito de terrorismo no Reino Unido, o brasileiro David Miranda, 28, disse ao chegar ao Brasil, na manhã desta segunda-feira, que aguarda providências do governo. Miranda, namorado do jornalista americano que denunciou o escândalo de espionagem digital dos EUA, ficou retido quase 9 horas numa sala com seis agentes da Scotland Yard (polícia metropolitana de Londres), quando fazia escala no país para voltar ao Rio.

"Espero que o governo brasileiro faça alguma coisa porque a gente não sabe o que está acontecendo de verdade", afirmou ao desembarcar no aeroporto internacional Tom Jobim (Galeão), na Ilha do Governador, zona norte do Rio, por volta das 5h15 de hoje.

Recebido pelo companheiro, o jornalista Glenn Greenwald, 46, Miranda disse que se sentia cansado pelo tratamento no Reino Unido e pela viagem. Em poucas palavras resumiu que as autoridades britânicas abordaram ele com base num artigo controverso da lei antiterrorismo do país, que permite deter suspeitos sem mandado judicial e sem a permissão de consultar um advogado.

"Eles alegaram uma lei sobre terrorismo. Só me deram um documento que eu passei direto para o meu advogado", contou.

Diana Brito /Folhapress
O brasileiro David Miranda chega ao aeroporto no Rio e é cercado por jornalistas
Após ser detido por quase nove horas em Londres, o brasileiro David Miranda chega ao aeroporto no Rio e é cercado por jornalistas

"Fiquei numa sala, onde seis agentes entravam e saíam, se revezando para falar comigo. Perguntaram sobre a minha vida inteira, sobre tudo. Seguraram o meu computador, videogame, celular, pen drives, máquina fotográfica", lamentou.

O brasileiro afirmou que não foi ofendido, mas ficou irritado pela forma que foi abordado. Com aspecto de cansaço e nervosismo, ele contou que teve seu passaporte confiscado.

"Não me deram o meu passaporte. Antes eu comecei a fazer um escândalo no lounge falando que eu queria o meu passaporte, que eu queria sair dali, saber aonde eu ia, o que eles iam fazer comigo. Só depois de oito horas consegui que o advogado chegasse lá", lembrou.

Ao contrário de Greenwald, Miranda disse que não sofreu nenhum tipo de ameaça. Ele não passou detalhes do interrogatório e disse que precisava ir para casa dormir.

"Eu vou tomar providências aqui no Brasil. Espero que o Senado esteja vendo isso e que eles façam alguma coisa", acrescentou.

Enquanto aguardava o companheiro, o jornalista afirmou à Folha que em conversa por telefone com o advogado recebeu a informação de que o companheiro sofreu ameaça de ser preso caso não respondesse as perguntas.

Ele classificou o episódio com o companheiro como uma "intimidação à imprensa" e disse que recebe, desde o início, apoio do Ministério das Relações Exteriores.

O americano destacou ainda que deve intensificar suas reportagens em resposta a suposta retaliação. No momento que foi detido, Miranda sequer pode dar um telefonema a um familiar ou ao advogado, que acabou sendo contatado por intermédio de um agente britânico.

O advogado que atendeu o brasileiro pertence ao corpo jurídico do jornal "The Guardian".

Estudante de Comunicação na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) do Rio, Miranda fazia apenas uma escala em Londres para retornar ao Rio. Ele havia encontrado uma jornalista --colaboradora do "Guardian"-- em Berlim (Alemanha). A repórter escreve um documentário sobre a série de investigações do governo americano.

Greenwald vem publicando no "The Guardian", desde 5 de junho, artigos revelando ações de espionagem digital da agência nacional de segurança dos EUA (NSA, na sigla em inglês) utilizando documentos vazados pelo ex-funcionário da CIA Edward Snowden.


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