Folha de S. Paulo


Forças de segurança esvaziam mesquita ocupada por islamitas no Cairo

A Polícia do Egito anunciou neste sábado que esvaziou a mesquita de Al Fath, que foi ocupada na noite de sexta (16) por aliados do presidente deposto Mohammed Mursi. A ocupação foi feita após as manifestações que deixaram 173 mortos e 1.330 feridos.

Desde que o islamita foi retirado do cargo pelos militares, em julho, o movimento, que diz ter sido vítima de um golpe, se recusa a negociar com o governo interino, contra quem protesta. Dentre as ações de repúdio, estavam dois acampamentos montados em duas praças no Cairo, desmontados na quarta (14).

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A ação policial que desalojou os manifestantes terminou em confronto e levou a um massacre com mais de 600 mortos. Na sexta (16), os islamitas convocaram uma onda de protestos, chamada de "dia da fúria", que terminou com a ocupação da mesquita, usada como hospital e necrotério improvisados.

Segundo as forças de segurança, soldados do Exército e da Polícia ocuparam o prédio após troca de tiros entre os agentes e islamitas que estavam no minarete (torre) da mesquita. Em seguida, arrombaram as portas e entraram no templo, prendendo os manifestantes restantes.

Os islamitas foram retirados escoltados pelos policiais, evitando o ataque de militantes liberais, que tentaram linchar os aliados de Mursi. As forças de segurança afirmaram que ainda precisam retirar militantes armados que estavam no minarete.

A Irmandade Muçulmana confirmou a ação da Polícia, mas acusou o governo de provocar o tiroteio que levou à desocupação e usar helicópteros para retirar os militantes da torre. Não há informações sobre número de mortos e feridos.

A mesquita de Al Fath fica ao lado da praça Ramsés, no centro da capital, principal local de protesto no Cairo durante o "dia da fúria". Após a desocupação, a Irmandade Muçulmana diz que manterá as manifestações previstas para esta semana.

DEPOSIÇÃO

Os protestos de aliados da Irmandade Muçulmana começaram após a retirada de Mohammed Mursi, vinculado à entidade, da Presidência, em 3 de julho. Mursi foi deposto pelos militares depois de ser alvo de protestos de organizações liberais contra seu governo, acusado de autoritarismo e imposição da lei islâmica.

Desde a retirada, os islamitas convocaram diversos protestos em todo o país contra as Forças Armadas e o governo interino, alegando que foram vítimas de um golpe de Estado. Enquanto isso, Mursi foi mantido preso em um local desconhecido, sem acesso à família ou aliados políticos.

Após pressão da comunidade internacional sobre o caráter ilegal da detenção, o governo interino acusou o mandatário deposto de conluio com o grupo palestino Hamas durante uma rebelião em uma prisão egípcia em meio à revolta que derrubou o ditador Hosni Mubarak, em 2011.

Em 26 de julho, foi emitida uma ordem de prisão preventiva, com duração de 15 dias. A medida foi renovada na última segunda (12) por 15 dias e na quarta (14), dia do massacre, em 30 dias. No mesmo dia, o governo interino decretou estado de emergência por um mês e toque de recolher no Cairo e em mais dez Províncias.

A administração provisória, comandada pelo presidente Adly Mansour, justifica a ação contra os islamitas dizendo que é vítima de terrorismo. Para tentar controlar os militantes, liberou oficialmente o uso de munição letal contra os manifestantes após o massacre que deixou mais de 600 mortos.


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