Folha de S. Paulo


Premiê egípcio elogia 'moderação' de militares; país confirma 278 mortes

O primeiro-ministro do governo interino egípcio, Hazem al-Beblawi, afirmou nesta quarta-feira (14) que as forças de segurança agiram com "toda moderação" durante a sangrenta desocupação de partidários do presidente deposto Mohammed Mursi, reunidos em dois acampamentos no Cairo.

O pronunciamento do premiê pela televisão ocorre após críticas internacionais e a renúncia do vice-presidente egípcio Mohamed ElBaradei em reação aos confrontos, que deixaram centenas de mortos e feridos pelo país.

EUA criticam estado de emergência

Beblawi justificou a intervenção da polícia e do Exército dizendo que "nenhum Estado que se respeite teria conseguido tolerar" a ocupação das praças Rabaa al-Adawiya e Nahda por milhares de manifestantes pelo período de um mês e meio.

AFP/Al-Masriya TV
Primeiro-ministro Hazem al-Beblawi em pronunciamento na televisão após confrontos
Primeiro-ministro Hazem al-Beblawi em pronunciamento na televisão após confrontos

As ocupações foram montadas em 3 de julho, mesmo dia em que Mursi foi retirado do poder pelos militares e detido em local não identificado.

No mesmo pronunciamento, o premiê afirmou que o estado de emergência, iniciado às 16h locais (11h em Brasília), terá a menor duração possível. Mais cedo, a Presidência havia anunciado que ele duraria um mês.

Além do estado de emergência, foi decretado também toque de recolher em diversas Províncias egípcias, entre às 19h de hoje às 6h de amanhã (14h de hoje à 1h de amanhã em Brasília).

MORTES

O Ministério da Saúde egípcio confirmou a morte de 278 pessoas em todo o país, sendo 43 delas policiais, e pelo menos 2.001 feridos. Manifestantes e imprensa, porém, mencionam números maiores. A agência France-Presse diz ter registrado 124 mortos somente na praça Rabaa al-Adawiya, onde o Ministério da Saúde aponta 61.

Já o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad el-Haddad, diz que são mais de 2.000 mortos e 8.000 feridos no total.

Dentre as vítimas do confronto, está o cinegrafista da emissora britânica SkyNews Mick Deane, 61, a jornalista Habiba Ahmed Abd Elaziz, 26, da emissora Gulf News. Um repórter da agência de notícias Reuters foi baleado na perna.

Durante o dia, a Polícia egípcia anunciou a detenção de Mohammed al-Beltagy, um dos principais líderes da organização islamita. Ele apareceu em seguida, em discurso transmitido ao vivo pela televisão, negando sua prisão.

A organização islamita divulgou, porém, a morte de Asmaa, 17, filha de Beltagy. Havia informações de que a mulher e a filha do estrategista Khairat al-Shater, ex-presidenciável, haviam sido mortas também.

RENÚNCIA

Mais cedo, o vice-presidente e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, enviou uma carta-renúncia ao presidente interino, Adly Mansour, dizendo que "os beneficiários do que aconteceu hoje são aqueles que pedem por violência, terrorismo e os grupos mais extremistas".

"Como você sabe, eu acreditava que havia maneiras pacíficas de encerrar este confronto na sociedade, havia soluções propostas e aceitáveis que nos levariam ao consenso nacional", escreveu.

"Ficou difícil para mim continuar a ter responsabilidade por decisões com as quais eu não concordo e cujas consequências eu temo. Não posso carregar a responsabilidade por um derramamento de sangue."

Editoria de Arte/Folhapress

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