Folha de S. Paulo


Limitação de concessões dificulta acordo nuclear entre Ocidente e Irã

A chegada do pragmático ex-negociador nuclear Hasan Rowhani à Presidência do Irã, no último dia 4, gera expectativa de que o impasse sobre o programa atômico iraniano poderá enfim ser rompido.

Mas o trajeto até um acordo é longo, incerto e cheio de riscos, segundo diplomatas e analistas ouvidos pela Folha.

O ceticismo tem raízes na desconfiança acumulada em uma década de conversas infrutíferas e na limitação das possíveis concessões mútuas.

Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
Mapa do Irã
Posse de Rowhani traz esperança de acordo nuclear

Na terça-feira, Rowhani se disse pronto para iniciar "negociações sérias" e até dialogar diretamente com os arqui-inimigos EUA, caso sejam aliviadas as sanções que assolam o Irã. A Casa Branca respondeu que estava disposta a "cooperar", desde que o iraniano prove boa vontade.

"Os dois lados continuam esperando que o outro dê o primeiro passo", diz Rouzbeh Parsi, da Universidade Lund (Suécia).

Teerã está traumatizada pelo fracasso de 2003. Naquele ano, a república islâmica suspendeu quase toda atividade nuclear e ofereceu concessões estratégicas, como o fim da hostilidade a Israel, mas os EUA rejeitaram.

Rowhani chefiava as negociações pelo lado iraniano.

Já ocidentais alegam que o ônus está com o Irã, acusado de violar resoluções da ONU que ordenam a suspensão do enriquecimento de urânio.

O poder de Rowhani, porém, é limitado. O detentor da palavra final é o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, cético em relação a negociações.

Segundo uma pessoa próxima a Rowhani, Khamenei enfureceu-se ao saber pelo "New York Times" que uma comitiva iraquiana havia levado a Washington uma oferta de diálogo de Teerã.

"Assessores do líder ligaram reclamando. Mas não tínhamos nada a ver com isso. Foi provavelmente [o ex-presidente Mahmoud] Ahmadinejad que aproveitou os dias finais no cargo para mandar recado", relatou a fonte.

Apesar da desconfiança, ecoada por setores ultraconservadores no Irã, Khamenei decidiu dar a Rowhani a chance de buscar um acordo.

"Rowhani possui os apoios necessários para manobrar", afirma Mohamad Al Shabani, da Escola de Estudos Orientais e Asiáticos, em Londres.

O presidente descarta suspender o enriquecimento de urânio para fins civis, mas promete mais transparência e concessões. O risco é o Ocidente não responder a uma grande concessão, admite um embaixador europeu.

"Nos EUA a coisa é bem mais difícil, porque grupos pró-Israel exercem pressão forte sobre o Congresso, que detém a chave das punições", diz o diplomata.

Se Teerã sentir que não há contrapartida, corre-se o risco de uma ruptura total. "Isso fortaleceria radicais em todos os lados e seria perigoso".

O analista Shervin Malekzadeh discorda. Ele se diz otimista com as negociações, possivelmente em setembro.

"Será um processo interativo semelhante a uma valsa de formatura: muito flerte, muita desconfiança, muita esperança."


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