Folha de S. Paulo


Panelaço anti-Kirchner esvazia na Argentina, e organização culpa tragédia

Um panelaço contra o governo de Cristina Kirchner aconteceu ontem à noite em Buenos Aires e outras cidades da Argentina, mas sem grande adesão da população, como nos anteriores.

Segundo Luciano Bugallo, um dos organizadores do protesto chamado "8A" (de 8 de agosto), a quantidade de pessoas não chegou a um terço da participação nas anteriores. "Comparado com os anteriores o protesto de ontem foi sim o de menor envergadura. Mas é necessário ver o contexto", diz à Folha.

O principal fator para abaixa adesão foi a tragédia na cidade de Rosário, dois dias antes, onde a explosão em um prédio provocou a morte de 13 pessoas. "A presidente decretou luto nacional, poucos meios de comunicação nos deram espaço para divulgar o evento", afirma ele, um dos coordenadores da ONG Rede Ser Fiscal, que promove a transparência eleitoral. A entidade é acusada pelo governo de ser ligada a partidos de oposição. "Nos relacionamos na ONG com quase toda a a oposição. Mas minha participação nos protestos não tem nada a ver com isso, não sou filiado a nenhum partido. Participo como cidadão."

Marcos Brindicci/Reuters
Manifestantes carregam bandeira argentina durante panelaço contra a presidente Cristina Kirchner, em Buenos Aires
Manifestantes carregam bandeira argentina durante panelaço contra a presidente Cristina Kirchner, em Buenos Aires

Outro motivo para que muita gente não tenha saído às ruas, segundo Bugallo, foi a declaração de muitos políticos se dizendo contrários à sua realização ontem. Caso deputado Ricardo Gil Lavedra, presidente do bloco União Cívica Radical e pré-candidato nas primárias pela lista de oposição UNEM. "Não acho que seja a melhor oportunidade fazer uma mobilização a três dias de que o povo vote. Quer melhor maneira de se expressar do que nas urnas no domingo?", disse Lavedra.

Ontem, os partidos cancelaram todos os eventos de encerramento de campanhas por causa da tragédia em Rosário. "É muito difícil fazer atos de campanha quando se está procurando corpos", completou Lavedra.

O protesto não poderia ser cancelado, segundo Bugallo, porque não existe uma organização para esse tipo de protesto convocado pela população em redes sociais. "Eu não me considero organizador, sou apenas um difusor. O máximo que fazemos é lançar uma data. Depois, a convocação passa a ser de todas as pessoas que estão divulgando", afirma. "Quando isso se torna um protagonismo da sociedade, não dá para controlar."

Para ele, o saldo do panelaço de ontem, mesmo menor, foi excelente. "Mostramos o poder das redes sociais, que ajudam a tornar o sistema democrático mais participativo."


Endereço da página: