Folha de S. Paulo


Presidente do Irã diz estar determinado a romper impasse atômico

O recém empossado presidente do Irã, o ex-negociador nuclear Hasan Rowhani, se disse nesta terça-feira (6) determinado a romper com o impasse atômico iraniano, mas condicionou qualquer diálogo com os EUA ao fim das sanções.

"Somos a favor da negociações e da interação. Estamos prontos para iniciar negociações sérias e substanciais com o outro lado", disse Rowhani, em seu primeira entrevista coletiva, num salão do complexo presidencial, no centro de Teerã.

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"Se o outro lado também estiver preparado como estamos, então estou confiante de que as preocupações dos dois lados serão encerradas por meio da negociação num prazo que não será muito longo", afirmou o presidente.

Há relatos de que uma nova rodada de conversas entre o Irã e o grupo conhecido como P5+1, reunindo as cinco potências do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha, ocorrerá em setembro.

Centenas de veículos de imprensa iranianos e estrangeiros, inclusive a Folha, participaram do encontro com Rowhani, que assumiu no último sábado, sete semanas após sua inesperada vitória nas urnas.

O novo presidente, que acumulou estudos religiosos no Irã e um doutorado na Escócia, fez campanha prometendo melhorar relações com o Ocidente como forma de aliviar sanções que empobrecem a população e esvaziam cofres públicos.

EUA e aliados vêm adotando punições cada vez mais severas para pressionar o Irã a frear seu programa nuclear, suspeito de desenvolver secretamente um arsenal nuclear.

Teerã nega intenções bélicas e argumenta que tratados internacionais lhe garantem o direito de enriquecer urânio para fins medicinais e energéticos.

Na última vez em que as negociações nucleares resultaram num acordo, em 2003, Rowhani era chefe negociador iraniano. Ele havia conseguido a cúpula do regime iraniano a suspender por dois anos a maior parte das atividades nucleares do Irã. Mas o pacto fracassou devido a objeções dos EUA, então sob Presidência de George W. Bush.

A eleição de Rowhani para suceder oito anos de governo do controverso Mahmoud Ahmadinejad --que gerou hostilidade do Ocidente por sua retórica incendiária-- foi recebida com otimismo cauteloso pela governo americano.

No domingo, a Casa Branca parabenizou Rowhani pela posse e se disse disposta a dialogar com ele desde que se comprometa a acatar com as exigências das potências ocidentais.

Foi a primeira vez em anos que os EUA deixaram a porta aberta para dialogar com o Irã, com quem estão rompidos há três décadas.

Em resposta, Rowhani afirmou ser cético em relação à retórica americana.

"Declarações da Casa Branca não condizem com seus atos. São os atos que contam, não as declarações", disse o presidente. Ele afirmou que a nova rodada de sanções em tramitação no Congresso americano afeta qualquer possibilidade de conversas diretas.

"O alvo das sanções não é a questão nuclear nem nosso programa de mísseis, mas pressionar cidadãos iranianos comuns", destacou Rowhani. Ele aparenta ter aval do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, para oferecer concessões ao Ocidente em troca do fim das sanções.

"Não queremos a continuação da pressão. Nunca gostamos dessa ideia e continuamos não gostando."


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