Folha de S. Paulo


Análise: Por acordo histórico, líderes enfrentam ceticismo e tempo

Negociadores israelenses e palestinos encaram-se depois de quase três anos para negociar um fim ao conflito.

O fato de o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, ter chegado tão longe confunde os céticos.

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Dúvidas, porém, persistem. Questão crítica é se os dois líderes --o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas-- estão dispostos a fazer as concessões necessárias.

Embora Netanyahu relute em ceder terras colonizadas nos últimos 46 anos, ele afirmou como meta "impedir um Estado binacional entre o rio Jordão e o Mediterrâneo".

Isso levaria ao fim do "Estado judaico" ou a um regime como o do apartheid, em que direitos seriam negados a palestinos. Além disso, em seu terceiro mandato, ele talvez cogite abrir mão de territórios para entrar na história.

Soma-se a isso a pressão dos EUA e da União Europeia, cuja diretiva contra apoio financeiro a entidades israelenses em assentamentos impactou a disposição das partes.

Para Mahmoud Abbas, as alternativas também são difíceis. Desistir de um Estado independente traz a perspectiva de um retorno à violência pela frustração dos palestinos.

Abbas, 78, que dedicou a maior parte da vida às negociações --até aqui, sem êxito-- também pondera um legado.

Os obstáculos são enormes. Palestinos e EUA querem fronteiras pré-1967, o que Israel nega. Há diferenças sobre Jerusalém, que ambos querem como capital --divisão rejeitada por Israel--, e o retorno de refugiados palestinos.

Governada pelo Hamas e física e politicamente separada da Cisjordânia, a faixa de Gaza mal tem sido mencionada. E a exigência de que os palestinos reconheçam Israel tem sido rejeitada. O ceticismo ainda está à frente.

Tradução de CLARA ALLAIN

Editoria de Arte/Folhapress

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