Folha de S. Paulo


Irã quer discutir questão nuclear com os EUA, diz premiê iraquiano

O primeiro-ministro do Iraque, Nouri al Maliki, disse à administração Obama este mês que o Irã está interessado em conversações diretas com os EUA sobre o programa nuclear do Irã e que o Iraque está disposto a facilitar as negociações. A informação chegou na quinta-feira de autoridades ocidentais.

Num encontro no início de julho com o embaixador dos EUA em Bagdá, Maliki sugeriu que estava transmitindo uma mensagem de autoridades iranianas e afirmou que Hasan Rouhani, o presidente eleito do Irã, encararia seriamente quaisquer discussões com os Estados Unidos, segundo relatos feitos do encontro.

Embora Maliki tenha indicado que esteve em contato com confidentes do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ele não revelou precisamente com quem está tratando no lado iraniano.

Alguns representantes ocidentais ainda estão incertos quanto a se líderes iranianos tentaram usar o Iraque como meio de acesso aos EUA ou se a ideia é principalmente uma iniciativa de Maliki.

Funcionários do Departamento de Estado se negaram a comentar a iniciativa de Maliki ou quais medidas os EUA podem ter tomado em resposta a ela. Desde o início da administração Obama, representantes dos EUA disseram que estariam abertos a negociações diretas com o Irã.

"O Iraque é uma parceira dos Estados Unidos, e mantemos discussões regulares com autoridades iraquianas sobre uma gama completa de questões de interesse mútuo, incluindo o Irã", disse um porta-voz do Departamento de Estado, Patrick Ventrell. "Como já dissemos repetidas vezes, estamos abertos a negociações diretas com o Irã para resolver as preocupações da comunidade internacional relativas ao programa nuclear iraniano."

As sanções internacionais já causaram prejuízos graves à economia iraniana e ajudaram a trazer o Irã para a mesa de negociações, mas ainda não arrancaram do país concessões significativas sobre seu programa nuclear. Os EUA e seus aliados --Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China-- vêm se reunindo com representantes iranianos há anos, de modo intermitente, em um diálogo que ficou conhecido como as conversações "P5 mais 1".

Especialistas em não proliferação continuam a argumentar que é difícil avançar muito em um fórum desse tipo, que lembra um comitê, e que, para que sejam feitos avanços, serão necessárias discussões reservadas e bilaterais entre autoridades iranianas e a administração Obama.

Mas há diferenças de opinião quanto a se o Irã está genuinamente interessado em tal discussão. Em 2009, William Burns, o então subsecretário de Estado para assuntos políticos, se reuniu com o negociador nuclear iraniano, Saeed Jalili, às margens das discussões do "P5 mais 1". Eles concordaram em princípio que uma parte do urânio enriquecido iraniano poderia ser usada para produzir combustível para o centro de pesquisas de Teerã, o que impediria que o material fosse mais enriquecido para a produção de armas nucleares.

Mas o acordo fracassou quando Khamenei fez objeção a ele, e desde então não houve mais discussões diretas.

Numa reunião este mês com o presidente iraniano em final de mandato, Mahmoud Ahmadinejad, Khamenei expressou críticas acirradas à posição dos EUA.

"Os americanos são pouco confiáveis e ilógicos. Não são honestos em sua abordagem", disse Khamenei. Apesar disso, falou que não se oporia à realização de discussões "sobre determinadas questões".

Mesmo que forem acordadas discussões diretas, é quase certo que sejam difíceis.

Tradução de CLARA ALLAIN


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