Folha de S. Paulo


Diplomacia sob Lula e Dilma deixou de "baixar a bola", diz chanceler

O chanceler Antonio Patriota caracteriza a política externa do Brasil nos anos Lula/Dilma como "criativa", "propositiva" e interessada em ter uma agenda política global em contraste com o comportamento "reativo" e da orientação para "baixar a bola" fora da esfera econômica predominante nos períodos "imediatamente anteriores".

A análise foi apresentada por Patriota na noite de segunda-feira, durante a abertura da conferência "2003-2013: Uma nova política externa", no campus da Universidade Federal do ABC em São Bernardo do Campo.

O encontro, que faz um balanço da diplomacia brasileira sob os governos do PT, terá palestra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encerramento, na quinta-feira.

O chanceler comentou a definição da diplomacia sob Lula feita por seu antecessor e atual ministro da Defesa, Celso Amorim. Para ele, caracterizar a política externa a partir de 2003 como "ativa e altiva", como faz Amorim, "é uma boa descrição". "Mas acho também injusto dizer que a política anterior foi sistematicamente passiva e subserviente. Na verdade, acho que ela foi menos criativa, menos transformadora", seguiu Patriota.

"A característica mais inovadora, que representa talvez uma ruptura com o período imediatamente anterior, é essa de acionarmos em sua plenitude o poderíamos chamar de agenda política. Não é só o econômico e financeiro que interessa", disse Patriota, rebatendo aos que criticam a atuação da diplomacia no período 2003 até agora como excessivamente ambiciosa e politizada.

Segundo o ministro, a tendência predominante nos governos anteriores, "e na imprensa inclusive", é endossar a busca do Brasil por mais espaço apenas no plano econômico. Mas, para o atual chanceler, foi justamente a adoção de uma agenda política - com intenção de participar de debates globais sobre segurança e desenvolvimento, por exemplo - o ponto de inflexão que permitiu ao Brasil ampliar seus espaços, inclusive na arena econômica e financeira.

IBAS

Na visão dele, foi a articulação do Ibas, o grupo Brasil, Índia e África do Sul, ainda em 2003, que deu sustentáculo ao G20, assim como foi a combinação desse tipo de iniciativa com as políticas Sul-Sul as responsáveis por mobilizar o apoio necessário para eleger Roberto Azevêdo na OMC (Organização Mundial do Comércio).

"Eu vivi essa experiência como diplomata lotado na missão do Brasil nas Nações Unidas. Frequentemente a mensagem que chegava era 'baixar a bola'. 'Vocês estão se interessando muito pelo Iraque ou pela reforma do Conselho de Segurança. O Brasil não tem esse excedente de poder para se mover nesse tipo de agenda. Vamos nos concentrar em OMC. Nós somos uma economia importante e temos interesses mais concretos e paupáveis'", comentou.

Questionado pelos jornalistas se sua defesa de que há uma nova política externa sob os governos do PT distinta da aplicada nos governos do PSDB significa uma inflexão em um discurso de que o Itamaraty "faz política de Estado, e não de governo", Patriota respondeu: "Estou aqui representando o Estado brasileiro, assim como representei o Estado brasileiro em governos anteriores. No meu balanço da política externa nos últimos dez anos, eu procurei assinalar pontos que eu considero que representam uma inflexão em relação ao período anterior. Eu não mencionei em momento algum nome de um partido político".


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