Folha de S. Paulo


Análise: À margem no júri, questão da raça guia caso Zimmerman

A absolvição de George Zimmerman pela morte de Trayvon Martin reverberou pelos EUA no domingo e fomentou debates sobre raça, crime e a forma como a Justiça tratou o homicídio de um jovem negro em um bairro residencial da Flórida.

Em todo o país, legisladores, líderes religiosos e manifestantes descreveram a decisão do júri como prova de racismo endêmico.

"Trayvon Benjamin Martin está morto porque ele e outros meninos e homens negros não são vistos como pessoas, mas como problemas", disse o reverendo Raphael Warnock, líder da Igreja Batista Ebenezer em Atlanta, em culto na manhã de domingo.

Em Sanford, a cidade onde Martin foi morto, a reverenda Valarie Houston atraiu apoio e indignação ao deplorar "o racismo e a injustiça que poluem o ar da América".

Zimmerman e seus partidários descartaram o fator racial. Os advogados argumentaram que ele não perseguiu Martin e que agiu em defesa própria quando o jovem o agrediu e bateu sua cabeça na calçada.
Alegaram ainda que as leis do Estado asseguram aos civis atos radicais de autodefesa caso se sintam em risco.

No entanto, a reação ao júri --com seis mulheres, nenhuma negra-- sugere que, cinco anos após os EUA terem seu primeiro presidente negro, a questão racial segue polarizada na Justiça.

Barack Obama, que após a morte de Martin disse que, "se tivesse um filho, seria parecido com Trayvon", voltou ao caso no domingo.

"Agora apelo aos americanos que respeitem o pedido de calma reflexão de pais que perderam um filho", disse.

Líderes negros perguntam se Zimmerman, de origem parcialmente hispânica, seria absolvido se fosse negro e Martin, branco.

"É perturbador que um jovem de 17 anos não possa ir à esquina comprar doces sem pôr sua vida em risco", diz Kasim Reed, prefeito de Atlanta.

Mark O'Mara, um dos advogados de Zimmerman, ofereceu avaliação conflitante: "Se ele fosse negro, nem teria sido acusado do crime."

"O caso virou um evento de direitos civis", disse, "para Zimmerman levar a culpa". Para ele, a violação racial "não se confirma nos fatos".

Advogado da família Martin, Benjamin Crump retrucou: "Qual o veredito se Martin, suspeitando de intuitos criminosos, matasse George com um tiro no coração? É a pergunta que todos fazemos."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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