Desmoralizado após o governo de transição que seguiu a deposição do ex-ditador Hosni Mubarak em 2011, e historicamente criticado por ações nas últimas décadas, o Exército do Egito tornou-se de repente símbolo do heroísmo nacional.
As Forças Armadas, com larga participação no PIB e atuação em setores estratégicos como a construção civil, colhiam ontem os louros de seu golpe de Estado.
Era recorrente ontem na praça Tahrir a imagem de um helicóptero militar sobrevoando as multidões. No solo, manifestantes gritavam histericamente às aeronaves.
Os rasantes pareciam planejados como espetáculo, e lasers apontados para cima pintavam as máquinas de um verde brilhante.
Diante do clube da Guarda Republicana, a Folha presenciou a passagem de um veículo do Exército. O carro foi cercado por ativistas, que saudavam os soldados.
"ELES NÃO VÃO FICAR"
Apesar de demonstrações de receio esparsas entre manifestantes, a sensação geral era de agradecimento. "Eles não vão ficar no poder", dizia Nael Salahadin, 47.
A reação era outra em 2011, quando o Exército governou o Egito temporariamente, após a deposição de Mubarak. Nesse período, a instituição foi duramente criticada pela oposição.
Muhammad Hussein Tantawi, que liderou o país durante a transição, era alvo de protestos nas ruas até ser aposentado por Mursi em agosto de 2012, em movimento polêmico do islamita.