Folha de S. Paulo


Atos pedem queda do presidente do Egito

Manifestantes levaram de volta às ruas do Egito ontem o mantra da Primavera Árabe --"o povo quer derrubar o regime". O Exército disse que "milhões" participaram.

Desta vez, porém, o alvo não foi Hosni Mubarak, o ditador que regeu o país por três décadas, mas o islamita Mohammed Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente no Egito.

Seu governo completou um ano ontem em meio aos protestos em massa.

Houve confronto entre simpatizantes e opositores ao presidente, com sete mortos e ao menos 600 feridos.

Escritórios da Irmandade Muçulmana, ligada a Mursi, foram queimados.

O grupo Tamarod, ou Rebelião, afirma ter reunido 22 milhões de assinaturas pedindo pela saída de Mursi, por meio da antecipação da eleição presidencial no país.

Manifestantes, apoiados por intelectuais, afirmam que permanecerão nas ruas até atingir o objetivo, visto como continuação da revolução que derrubou Mubarak em fevereiro de 2011.

"Queremos antecipar as eleições e vamos esperar [nas ruas] até que atendam às nossas demandas", afirma à Folha Emad Hamdy, analista político do jornal egípcio "Dostor". "Os egípcios estão recusando Mursi. Ele não fez nada pelo Egito."

Em meio ao clima opressivo do verão, somado ao período de jejum iniciado no mês do ramadã, no começo de julho, há dúvidas se os protestos conseguem persistir durante um longo prazo.

Simpatizantes de Mursi apontam ainda que a única saída democrática para o impasse tem de ser a conclusão regular do mandato dele e, então, novas eleições. Afirmam que as manifestações contra o presidente são uma tentativa de golpe.

Ehab Fahmy, porta-voz do governo, disse durante coletiva de imprensa que Mursi está aberto a negociar com a oposição. "O diálogo é a única maneira por meio da qual podemos entrar em acordo."

Em entrevista ao jornal britânico "Guardian", o presidente do Egito afirmou que não haverá uma "segunda revolução" ali. "[Caso o governo seja refeito], então haverá pessoas se opondo ao novo presidente também, e depois de uma semana ou um mês vão querer que ele renuncie."

CONTEXTO
Manifestantes apontam que Mursi, visto como um líder islamita, desviou o país dos ideais da revolução.

Desde a queda de Mubarak, a economia seguiu também em declínio, com desvalorização da moeda e sucessivos empréstimos tomados com credores internacionais, como Arábia Saudita.

Em novembro, Mursi foi alvo de forte oposição no país ao emitir decreto que protegia suas decisões de posterior revisão judiciária.


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