Folha de S. Paulo


Delator dos EUA está em aeroporto de Moscou junto com porta-voz do Wikileaks

Retida no aeroporto de Moscou ao lado de Edward Snowden, para ajudá-lo na tentativa de escapar da justiça americana, a britânica Sarah Harrison não é novata na questão. Como militante do WikiLeaks, Harrison é uma das conselheira mais próximas de Julian Assange, outro inimigo declarado dos Estados Unidos.

Uma experiência que transforma a jovem loura na pessoa ideal para aconselhar o técnico de informática e ex-funcionário de uma consultoria que prestava serviços à Agência de Segurança Nacional (NSA).

Procurado por espionagem pelos Estados Unidos por ter revelado o programa secreto americano de vigilância eletrônica, Snowden está abrigado com a britânica desde domingo na zona de trânsito de um aeroporto de Moscou.

Carl Court - 21.jun.2012/AFP
Em imagem de junho de 2012, Sarah Harrison fala com a imprensa do lado de fora da embaixada do Equador, em Londres
Em imagem de junho de 2012, Sarah Harrison fala com a imprensa do lado de fora da embaixada do Equador, em Londres

"É totalmente digna de confiança", comentou à agência de notícias AFP o jornalista Vaughan Smith, que abrigou Assange em sua mansão na Inglaterra durante grande parte de sua prisão domiciliar entre dezembro de 2010 e junho de 2012, quando se refugiou na embaixada do Equador em Londres.

Sarah Harrison trabalha para o WikiLeaks desde o fim de 2010 como investigadora, responsável pelas relações com a imprensa e porta-voz ocasional.

Se a falta de formação jurídica pode parecer uma desvantagem no combate iniciado por Edward Snowden, um de seus ex-patrões considera que ela tem uma compreensão única da situação.

"O WikiLeaks é tratado como uma espécie de inimigo de Estado há dois anos. Alguém que viveu tudo isto tem muito mais experiência que alguém que não foi submetido aos ataques", disse à AFP Gavin MacFadyen, diretor do Centro de Jornalismo Investigativo (CIJ, na sigla em inglês).

Sarah Harrison trabalhou durante 18 meses para o CIJ, com sede na City University London, e depois para outra organização especializada em jornalismo investigativo na capital britânica, o Bureau of Investigative Journalism, examinando os documentos publicados pelo WikiLeaks.

"Era uma investigadora muito boa, muito aplicada", recordou uma das diretoras da organização, Rachel Oldroyd.

A militante, que teria por volta de 30 anos e que alguns jornais afirmam ter um relacionamento com Assange, viveu ao mesmo tempo que o ciberativista na mansão de Vaughan Smith, mas este destacou que a jovem tinha um quarto próprio.

Smith disse também que Harrison não era uma serviçal devota de Assange, como já foi descrita. "Nunca a vi lavando as meias dele", comentou, em referência a uma informação publicada pela imprensa.

Ela participou ativamente na batalha travada pelo fundador do WikiLeaks contra o pedido de extradição da Suécia, país no qual é procurado como suspeito de quatro supostos crimes sexuais, acusações que Assange nega.

Assange teme ser transferido em um segundo momento aos Estados Unidos e julgado pelo vazamento de centenas de milhares de documentos confidenciais diplomáticos e militares através do WikiLeaks.

Na embaixada do Equador, Harrison recebe os visitantes e os escolta até o quarto do australiano.

O refúgio de Assange na representação sul-americana custou pessoalmente 3.500 libras (R$ 11.692), valor correspondente à fiança paga pela liberdade condicional do hacker fixado pela justiça britânica.

"É um elemento-chave da equipe, uma das pessoas decisivas", conta Vaughan Smith, que cita uma jovem "muito comprometida em favor de mais transparência governamental, muito trabalhadora, que aguenta muito bem a pressão de um trabalho muito difícil".

"Está convencida de que o que faz é de interesse público", destaca.


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