Folha de S. Paulo


Delator da CIA sairá de Moscou rumo a Havana, diz agência russa

O ex-técnico da CIA Edward Snowden, acusado de espionagem nos Estados Unidos, sairá de Moscou com destino a Havana às 7h05 (horário de Brasília), informou hoje uma fonte russa anônima citada pela agência Interfax.

Snowden, acrescentou a fonte, viajará para a capital cubana no voo direto da linha aérea Aeroflot SU150, que tem uma duração de quase 13 horas.

O ex-técnico da CIA solicitou asilo ao Equador, cujo chanceler, Ricardo Patiño, disse hoje que estuda o assunto com "responsabilidade", ao mesmo tempo em que destacou a importância da "liberdade de expressão".

Desde que Snowden, que revelou uma trama de espionagem em massa realizada pelos Estados Unidos e Reino Unido, chegou ontem (23) a Moscou procedente de Hong Kong, as autoridades russas guardam silêncio.

A imprensa russa repercutiu hoje informações não confirmadas que Snowden, que segundo todas as versões permanece como passageiro em trânsito no aeroporto Sheremetyevo de Moscou, teria se reunido ali com membros da missão diplomática do Equador na capital russa.

O chanceler equatoriano deve explicar nas próximas horas em entrevista coletiva a postura de seu país em relação ao pedido de Snowden.

O ex-técnico deixou no domingo Hong Kong rumo à Rússia, um dia depois de os EUA terem pedido sua extradição para que responda a três acusações de espionagem e roubo de propriedade federal, apresentados na sexta-feira em um tribunal na Virgínia (EUA) e que poderiam custar a ele até 30 anos de prisão.

O governo de Hong Kong disse que rejeitou o pedido porque os EUA "não cumpriu plenamente com os requisitos legais sob a lei de Hong Kong", e não podia impedir a saída de Snowden do território semiautônomo chinês.

EXTRADIÇÃO

Ontem (23), o governo dos Estados Unidos disse que iniciou contatos através de "canais diplomáticos e policiais" com os países da América Latina por onde Snowden pode passar.

"Os Estados Unidos iniciaram contatos através de canais diplomáticos e policiais com países no hemisfério ocidental nos quais Snowden pode passar ou que poderiam ser seu destino final", disse um funcionário de alta categoria da administração Obama.

"Os Estados Unidos já fizeram contato com estes governos para avisar que Snowden é procurado por delitos graves e, portanto, não devem permitir a ele uma viagem internacional, só o necessário para devolvê-lo aos EUA", acrescentou a fonte, que pediu o anonimato.

Ewen MacAskill/Reuters
Ex-técnico da CIA, Edward Snowden procura asilo político
Ex-técnico da CIA, Edward Snowden procura asilo político

O funcionário não mencionou os países em questão, mas o WikiLeaks, que ajudou Snowden a abandonar Hong Kong rumo à Rússia, disse em seu site que ele viajará rumo ao Equador "por uma rota segura" para prosseguir com a solicitação de asilo político que fez a esse país.

Perguntado pela agência EFE sobre a possibilidade de Snowden viajar ao Equador e receber asilo político, o funcionário afirmou que não discutiria casos hipotéticos.

Os EUA e o Equador têm um tratado de extradição de 1872 e que foi complementado em 1939.

Relatórios de imprensa também mostravam que Snowden, ex-técnico da CIA e ex-contratado da Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês), poderia viajar para Cuba ou Venezuela, o que foi alvo de críticas de vários líderes do congresso.

É a primeira vez que os Estados Unidos confirmam contatos diretos com países da América Latina em particular, horas depois que o departamento de justiça disse que buscará cooperação policial dos países que possam acobertar Snowden.

A porta-voz do departamento de Estado, Jen Psaki, explicou, por sua parte, que o governo dos Estados Unidos revoga o passaporte de americanos procurados por delitos graves, embora isso não afete sua cidadania.

SEM GARANTIA

Em todo caso, vários especialistas asseguraram em programas da televisão americana que um tratado de extradição não necessariamente garante que o indivíduo será devolvido aos Estados Unidos, além disso que o trâmite poderia demorar muitos meses.

Jonathan Turley, analista da Universidade de George Washington, disse à rede "CNN" que as solicitações de extradição se baseiam na prática de um delito, mas o país anfitrião onde o fugitivo se encontra pode examinar as acusações e "determinar se são de caráter político."

"Os EUA têm muitos críticos no que diz respeito a como nós mesmos cumprimos o direito internacional" e as acusações de líderes políticos de que Snowden é um 'traidor' e merece um castigo contribuiu para a percepção de que é um assunto político "e isso não vai ajudar" a administração de Obama, advertiu Turley.


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