Folha de S. Paulo


Análise: Resultado eleitoral expõe a crise da linha-dura iraniana

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, e aliados mais próximos tentaram apresentar da melhor maneira possível o resultado da eleição presidencial, mas, na verdade, o pleito repudiou suas ideias, e eles já começaram a culpar uns aos outros pela derrota.

Uma constelação complexa e sempre mutável de políticos linha-dura, conservadores moderados ou pragmáticos e reformistas forma a elite política do Irã.

A direita se define como "fundamentalista", enquanto a esquerda em geral se une em torno dos reformistas.

Na superfície, o vencedor, Hasan Rowhani, um pragmático moderado, conquistou uma vitória modesta no primeiro turno ao formar uma coalizão implícita com reformistas, liberais, mulheres e jovens, a fim de derrotar os quatro "fundamentalistas".

Mas um estudo mais detalhado dos resultados revela um quadro mais sombrio para Khamenei. Seu candidato mais próximo, Ali Akbar Velayati, assessor de política externa, teve 6% dos votos. Saeed Jalili, o negociador nuclear de Khamenei, de muitas formas um gêmeo ideológico do presidente Mahmoud Ahmadinejad, obteve pouco mais de 10%.

Os fundamentalistas estavam aprisionados na câmera de ecos da máquina de comunicação do governo.

Esquecendo dos milhões que foram às ruas pelo reformista Mir-Hossein Moussavi, ainda preso, depois da eleição de 2009, a linha-dura se convenceu de que seus valores e costumes sociais refletiam os do país em geral, e que um candidato como Jalili podia dar declarações como "a identidade básica da mulher está na maternidade" sem que isso prejudicasse suas perspectivas eleitorais.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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