Folha de S. Paulo


Venezuela preenche vácuo deixado por sanções contra exportações de petróleo do Irã

Vale tudo no amor e na guerra. E, para a Venezuela e o Irã, parece que o ditado também se aplica ao petróleo.

Aliada estreita de Teerã, Caracas vem não obstante, e sem alarde, aproveitando o impacto das sanções petrolíferas dos EUA e Europa sobre o Irã para capturar parte do mercado que esse país do Oriente Médio vem perdendo na região asiática em franco crescimento, especialmente na China e Índia.

"É irônico", comenta Robert McNally, ex-assessor petrolífero da Casa Branca. "Mas, no momento em que as sanções tiram o petróleo iraniano do mercado, seria ilógico imaginar que mesmo aliados de Teerã, como a Venezuela, deixassem de aproveitar oportunidades para substituir esses barris."

Nos últimos dois anos a Venezuela quase dobrou suas exportações de óleo à China (segundo maior consumidor de petróleo do mundo) e Índia (quarto maior), chegando a um total conjunto de quase 1 milhão de barris por dia (bpd). No mesmo período, as exportações de petróleo iraniano aos dois países caíram pela metade, para 500 mil bpd.

Este ano a Venezuela se tornou a terceira maior fornecedora de óleo à China e Índia, sendo que em 2011 estava na sétima posição. O Irã, que dois anos atrás era o terceiro maior fornecedor de Pequim e Nova Déli, caiu para sexto e 11º lugar, respectivamente.

A perda dos mercados de exportação asiáticos levou a produção petrolífera iraniana a cair para o nível mais baixo em 25 anos, provocando uma queda marcante no valor da moeda nacional, o rial, em relação ao dólar. Teerã depende de sua receita petrolífera para cobrir metade de seus gastos.

A disputa entre os dois países por participação no mercado de petróleo contrasta com a relação política estreita entre o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o novo presidente da Venezuela, Nicolas Maduro. Caracas continua a oferecer apoio político e econômico a Teerã. No mês passado o Tesouro americano aplicou sanções contra o Iranian Venezuelan Bi-National Bank, empresa financeira criada originalmente como joint venture bilateral.

Mas o impacto das sanções sobre as exportações de petróleo iranianas não é o único fator a estar levando a Venezuela à Ásia. De acordo com o Departamento de Energia americano, nos últimos anos "a Venezuela vem procurando diversificar os destinos de suas exportações petrolíferas, afastando-se dos EUA", como questão de política nacional.

Analistas e negociantes de petróleo dizem, contudo, que sem o recuo do Irã devido às sanções teria sido impossível para Caracas ganhar participação no mercado asiático tão rapidamente. Amrita Sen, analista petrolífero chefe da consultoria Energy Aspects, opinou que as sanções sobre o Irã beneficiam a estratégia venezuelana de diversificação, "especialmente a países como a Índia e, até certo ponto, a China, que vêm substituindo o óleo cru iraniano por óleo de outras origens".

O ministro venezuelano da Energia, Rafael Ramirez, disse durante a reunião recente do cartel petrolífero Opep em Viena que o aumento das exportações de óleo à Ásia é fruto de uma bem-sucedida estratégia de diversificado do mercado petrolífero, reduzindo a ênfase sobre os EUA.

Nos últimos dez anos as exportações de óleo da Venezuela para os EUA diminuíram 25%, chegando à média de 900 mil bpd em 2012. A queda se acelerou este ano; em fevereiro as vendas caíram para o nível mais baixo em 25 anos, 579 mil bpd.

TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN


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