Folha de S. Paulo


Interesse comercial aproxima Brasil e Irã

Apesar do esfriamento sob Dilma Rousseff, Brasil e Irã devem manter laços cordiais, independentemente de quem vença o pleito presidencial de amanhã, no qual iranianos escolherão o sucessor de Mahmoud Ahmadinejad.

O presidente sai de cena após oito anos de um governo que priorizou elos com a América Latina e atraiu o então governo de Lula a participar das negociações sobre o programa nuclear de Teerã.

Hoje menos propensos a compartilhar agenda política, os países apostam numa parceria voltada para o comércio, que vem resistindo às novas sanções contra o Irã.

A corrente saltou de US$ 1,1 bilhão em 2008 para 2,3 bilhões em 2011. Houve ligeira retração em 2012, creditada em grande parte a dificuldades de transação, mas os dados deste ano apontam para uma retomada.

O comércio bilateral abrange essencialmente exportações de commodities brasileiras. O Irã, rico em hidrocarbonetos e com 75 milhões de habitantes, é hoje o maior comprador de milho produzido no Brasil.

Exportadores brasileiros se queixam de problemas para receber pagamento dos iranianos, devido às sanções que excluíram Teerã do sistema bancário tradicional, mas mantêm foco num país que responde sozinho por 11% do superávit global do Brasil.

Embora deficitário, o Irã preza fornecedores do Brasil pela qualidade dos produtos , superior aos de China e Índia, e pela boa vontade dos empresários brasileiros.

A falta de incentivo na era Dilma, porém, é alvo de queixas. "O Brasil poderia ganhar muito se estivesse realmente interessado no nosso mercado", disse à Folha um empresário, ex-alto quadro do regime.

Segundo o governo iraniano, o comércio representa o "maior potencial" na relação bilateral e poderia ser multiplicado por cinco se houvesse "vontade política".

O sentimento ecoa a percepção em Teerã de que Dilma não compartilha o entusiasmo de seu antecessor pelo Irã. Em 2010, Lula costurou com a Turquia um acordo pelo qual o Irã aceitava desfazer-se de seu urânio muito enriquecido.

O acordo acabou torpedeado pelas potências, apesar de os EUA terem previamente aprovado o esforço de Lula, conforme a Folha revelou.

Dilma apoiou na ONU uma investigação sobre direitos humanos no Irã e não recebeu Ahmadinejad durante a cúpula Rio + 20, em 2012.

Outro alto funcionário de Teerã enxerga pressões americanas por trás do distanciamento de Dilma.

"O Brasil está mais envolvido com os EUA", diz, em meio à multiplicação de visitas oficiais entre Brasília e Washington e especulações de compra de caças americanos pelo Brasil.

O Itamaraty nega que a aproximação com os EUA se desenvolva em detrimento do Irã, país que o Brasil diz considerar "incontornável".

CANDIDATOS IRANIANOS

A eleição iraniana aponta para um esfriamento ainda maior na frente política. Entre os seis candidatos, apenas um, o ultrarradical negociador Said Jalili, demonstra interesse pela América Latina.

Um analista prevê que o próximo presidente priorizará outras regiões para romper com a impopular política externa iraniana na era Ahmadinejad.


Endereço da página: