Folha de S. Paulo


Turquia multa TVs por cobrir protestos; pinguins são símbolo da autocensura

Quatro canais de TV considerados próximos da oposição ao governo da Turquia foram multados pelo Conselho Superior de Rádio e Televisão do país por terem transmitido os protestos no parque Gezi, em Istambul.

A informação foi veiculada pelo jornal "Hurriyet" por meio de seu site, nesta quarta-feira.

Os grandes canais de notícias 24 horas se tornaram alvo de piada depois que a CNN Turk decidiu exibir um documentário sobre pinguins em vez dos enfrentamentos que aconteciam entre os manifestantes e a polícia no centro de Istambul.

A simpática ave se transformou no símbolo do que os manifestantes turcos consideram uma flagrante autocensura entre os meios de comunicação mais expressivos do país.

Tanto que, dias depois, em tom de provocação, o pequeno canal Ulusal TV, um dos multados, cortou a transmissão ao vivo de um discurso do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan para exibir imagens de pinguins.

As outras emissoras multadas são a Halk TV, a Cem TV e a EM TV.

Segundo o RTÜK as multas foram impostas às emissoras por "prejudicarem o desenvolvimento físico, moral e mental das crianças e jovens" devido à transmissão dos protestos em torno do parque Gezi de Istambul.

Reprodução/Youtube/OccupyTurkiye
Reprodução de exibição de documentário sobre os pinguins na CNN turca
Reprodução de exibição de documentário sobre os pinguins na CNN turca

A Halk TV adquiriu uma popularidade incomum na Turquia por ser a única que informa durante 24 horas sobre a onda de protestos que ocorre no país há quase duas semanas.

O canal se considera próximo do Partido Republicano do Povo (CHP), o maior da oposição, mas se tornou popular nos últimos dias por oferecer uma cobertura contínua, quase sempre ao vivo.

Nos últimos dias, no entanto, a cobertura foi mais contínua e o site do jornal "Radikal", propriedade do grupo midiático Dogan Media, alinhado com a oposição, oferece inclusive a imagem de uma webcam ao vivo e durante 24 horas da Praça Taksim, o epicentro dos protestos.

Em termos de liberdade de expressão, a Turquia ocupa o 154º lugar de acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras. Pelo menos 33 jornalistas estão presos no país. A ONG também classifica a Turquia como uma "inimiga da Internet", com mais de 15 mil sites censurados.

Segundo o jornal britânico "Guardian", a estrutura da mídia na Turquia facilita a interferência do governo na política editorial. Os maiores grupos de mídia turcos são parte de empresas maiores que atuam em outras áreas como o setor bancário e de hospitais, o que aumenta a dependência dessas companhias de contratos do governo.


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