Folha de S. Paulo


Candidato iraniano fala em moderação contra sanções

Um dos discursos mais moderados na campanha presidencial iraniana é, curiosamente, o de um candidato conservador que pertence ao círculo próximo do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.

Ali Akbar Velayati promete usar a experiência diplomática acumulada em 16 anos como chanceler (1981-1997) para apaziguar tensões com o Ocidente e aliviar sanções ao programa nuclear que castigam a população.

Hoje assessor do líder supremo para temas internacionais, Velayati, 67, é um dos favoritos no pleito de sexta-feira, que definirá o sucessor de Mahmoud Ahmadinejad, obrigado a sair de cena após dois mandatos seguidos.

Embora decisões estratégicas sobre o programa nuclear sejam definidas pelo líder supremo, o presidente administra a diplomacia.

A escalada da tensão com as potências ocidentais, e consequente acirramento das sanções, é atribuída, em grande parte, à retórica incendiária de Ahmadinejad.

Velayati prometeu o oposto disso ao registrar sua candidatura, no mês passado.

O ex-chanceler disse que, se eleito, conduzirá um gabinete de "moderação" e "uma política externa [para] resolver problemas econômicos".

A posição é vista como sinal de que estaria disposto a convencer o líder supremo a aceitar concessões no diálogo com as potências, emperrado devido a divergências sobre o nível de alívio das sanções proposto ao Irã para reduzir o programa nuclear.

O maior adversário desta abordagem é outro candidato conservador, o ultrarradical Said Jalili, que defende resistir a pressões ocidentais e prega o sacrifício coletivo da nação em nome dos ideais da revolução islâmica de 1979.

No último debate na TV, Velayati atacou Jalili por sua intransigência."Você dá três passos e espera que o outro lado dê cem", disse.

Jalili rebateu as acusações e disse que a posição nas negociações é endossada por Khamenei.

Mas, a julgar pela trajetória de Velayati, ele também desfruta do apoio do líder supremo.

Médico pediatra formado nos EUA, ele integrou a primeira geração de políticos no regime revolucionário e tornou-se chanceler durante a guerra contra o Iraque de Saddam Hussein, então aliado do Ocidente.

Após o conflito, em 1988, correu o mundo para reconstruir, com razoável êxito, as relações diplomáticas do Irã. Saiu do cargo com a eleição dos reformistas, mas continuou próximo de Khamenei.

Velayati orgulha-se de seus contatos na Europa, onde foi recebido inclusive pelo então presidente francês François Mitterrand.

Mas, apesar de elogiado pela habilidade diplomática, esbarra na sua falta de apelo popular e carisma. Além disso, não tem apoio na Guarda Revolucionária, a força de elite nacional, que prefere candidatos mais próximos do aparato de segurança.

A veia moderada do ex-ministro não convence um influente diplomata estrangeiro em Teerã.

"No jogo ordenado pelo líder supremo, Velayati faz o papel do moderado, mas isso é só para dar uma ilusão de diversidade no campo conservador", disse à Folha.


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