Folha de S. Paulo


Ex-técnico da CIA foi o responsável por revelar monitoramento nos EUA

O ex-assistente técnico da CIA Edward Snowden, 29, foi quem revelou a informação sobre o monitoramento de milhões de telefones e de dados de usuários de internet em todo o mundo feito pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, sigla em inglês).

A informação foi revelada neste domingo pelo jornal britânico "Guardian", o mesmo que fez as denúncias, na quinta (6). Segundo o jornal, os registros de telefonemas de milhões de usuários da companhia telefônica Verizon nos Estados Unidos foram monitorados pela agência.

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A NSA também foi responsável pela investigação de dados de usuários de internet de páginas como Google, Facebook, Microsoft, Apple, entre outras, em todo o mundo. As duas acusações foram reconhecidas pela Casa Branca e justificadas pelo presidente Barack Obama como importantes no combate ao terrorismo.

Ewen MacAskill/Reuters
Técnico de segurança Edward Snowden, 29, em entrevista ao
Técnico de segurança Edward Snowden, 29, em entrevista ao "Guardian"; ele revelou esquemas de monitoramento de dados dos EUA

Em entrevista ao jornal, Snowden disse que, desde o momento em que decidiu vazar diversos documentos ao público, ele decidiu não optar pelo anonimato. "Não pretendo me esconder porque eu sei que fiz algo errado", afirmou o técnico, que hoje é consultor em uma empresa privada.

"Eu estou fazendo todo esse sacrifício porque eu não posso manter a consciência limpa permitido que o governo americano destrua a privacidade, a liberdade de internet e as liberdades básicas de pessoas em todo o mundo com uma máquina enorme de vigilância que eles estão construindo secretamente".

Ele reconhece que pode ser severamente punido, como em outros casos de vazamento de informações do governo americano. Dentre eles, o do soldado Bradley Manning, acusado de divulgar milhares de documentos militares e do Departamento de Estado para o site WikiLeaks, em 2010.

No entanto, se diz diferente dos outros acusados de vazamento, porque divulgou apenas os documentos que causariam forte impacto. "Eu avaliei cuidadosamente todos os documentos que obtive para garantir que são de interesse público. Não é minha intenção prejudicar as pessoas, mas a transparência".

Mesmo tendo a intenção de se mostrar publicamente, o técnico afirma que não tem a intenção de se tornar famoso. "Não quero chamar atenção porque desejo que a história seja sobre o que os Estados Unidos estão fazendo. Sei que a imprensa gosta de personalizar e que o o governo vai me transformar em um demônio".

HONG KONG

Há três semanas, Edward Snowden deixou seu trabalho na NSA, com os últimos documentos a respeito do monitoramento de dados. Para sair, ele afirmou que precisava ficar fora algumas semanas para receber tratamento contra epilepsia, doença que descobriu no ano passado.

Após conseguir a licença, foi para Hong Kong e hospedou-se em um hotel de onde saiu apenas três vezes. Ele disse ter escolhido a cidade pelo respeito à liberdade de expressão e ao direito dos dissidentes políticos. Ali, acredita que será mais difícil para ser extraditado.

Em Hong Kong, ele poderia ser uma fonte importante para a China. No entanto, não descarta uma operação da CIA para retirá-lo. "Tenho uma filial da CIA no fim da rua, o consulado, e tenho certeza que estarei preocupado nas próximas semanas, assim como por toda a minha vida".

Durante a entrevista, ele ficou emocionado sobre o que o governo americano poderia fazer com sua família, cuja maioria é composta de funcionários do governo. "A única coisa que eu tenho medo é dos que pode acontecer de ruim à minha família, que não vou poder ajudar mais. Isso é o que me deixa com insônia".


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