Folha de S. Paulo


Análise: Nova assessora, Susan Rice é pedra no sapato do Brasil

O governo brasileiro achou que fosse se livrar, mas vai ter que engolir Susan Rice. A nova conselheira de Segurança Nacional do presidente americano, Barack Obama, sempre foi uma pedra no sapato do Itamaraty, demonstrando energicamente seu descontentamento com as posições brasileiras em relação a Irã, Líbia e Síria enquanto era embaixadora dos EUA na ONU.

Depois da debacle de Benghazi no ano passado, Rice retirou seu nome de consideração para o posto de secretária de Estado, diante da impossibilidade de os republicanos a confirmarem no Senado. Mas, para ser conselheira de Segurança, ela não precisa de confirmação. E, com total confiança de Obama, Rice pode ser bem mais influente do que o secretário de Estado, John Kerry.

Rice é grande defensora das intervenções para evitar catástrofes humanitárias, doutrina que bate de frente com a desconfiança da diplomacia brasileira em relação a possíveis agendas políticas dessas intervenções --garantir direitos humanos no Bahrein, mas tolerar abusos na Arábia Saudita, por exemplo.

Em 2010, logo depois da tentativa fracassada do Brasil e da Turquia de intermediar um acordo de troca de combustível nuclear do Irã, Rice condenou a decisão dos dois países de votar contra sanções ao regime iraniano. "Foi uma decisão muito infeliz do Brasil e Turquia. Os dois países estavam isolados, tentando negociar um acordo de última hora", disse.

Em 2011, China e Rússia bloquearam as sanções contra a Síria na ONU, enquanto Brasil, Índia, África do Sul e Líbano se abstiveram. "Seja no contexto da Líbia, da Costa do Marfim ou até do Sudão, esses países assumiram posições que não esperávamos, dado que vêm de fortes tradições democráticas", alfinetou Rice. "Aprendemos muito e nem tudo foi animador."

Já a indicada por Obama para substituir Rice na ONU, Samantha Power, soa melhor aos ouvidos brasileiros. Apesar de compartilhar com Rice a fé no "intervencionismo liberal", Samantha é bem mais crítica. Em seu livro "Genocídio", ela fala que os EUA usam dois pesos e duas medidas ao criticar "falta de democracia na Palestina, mas não no Paquistão".


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