Folha de S. Paulo


Deixar União Europeia seria um 'erro fatal', diz ministro britânico

Decano do governo David Cameron, o ministro britânico Kenneth Clarke, 72, ataca os colegas do Partido Conservador que querem tirar o Reino Unido da União Europeia e diz que o país cometerá um "erro fatal" se deixar o bloco.

Em entrevista à Folha, ele afirmou que o discurso dos eurocéticos "não é racional" e que a eventual saída do mercado europeu causaria "enormes danos" ao país, tanto agora como no futuro.

"Nós sofreremos danos enormes, políticos e econômicos, se sairmos da União Europeia", disse, em seu gabinete no centro de Londres.

Ele acusou os colegas contrários à permanência na UE de caminhar na contramão da história, movidos pela nostalgia do passado de glórias do Império Britânico.

"É um discurso excêntrico, de parem o mundo moderno que queremos sair", afirmou.

"Não é racional. Há uma ala do Partido Conservador obsessivamente eurocética. É um sonho de grandeza."

Clarke criticou o também conservador Nigel Lawson, ministro das Finanças do governo Margaret Thatcher, que na semana passada defendeu que o Reino Unido saia imediatamente do bloco.

"Não entendo por que ele pensa que saindo do mercado europeu, que tem 500 milhões de pessoas e representa metade do nosso comércio internacional, nós ficaremos mais fortes no mercado global. É o contrário", afirmou.

"Temos que aumentar nossa presença global, mas preservando o acesso ao mercado europeu e sendo uma das suas vozes principais."

O ministro defendeu a tese de que a presença no bloco torna o Reino Unido mais forte para negociar em outros fóruns e com os EUA.

"Nós temos mais força na ONU e no G7 porque somos um dos líderes da Europa. Estando na União Europeia, nós podemos negociar olho no olho com os americanos, e não sendo olhados de cima para baixo", disse.

Contrário à realização de um plebiscito sobre o tema, Clarke evita polemizar com Cameron, que tem dado declarações ambíguas sobre o tema. Ele disse acreditar que o primeiro-ministro deseja manter o Reino Unido na UE.

"A posição do governo, se você ouve o discurso do primeiro-ministro... Ele acha que nós precisamos ter um plebiscito. Mas ele também explica os benefícios de estar na União Europeia", afirmou.

O ministro também fez críticas ao Ukip, o partido de extrema-direita que conquistou 23% dos votos nas eleições locais do início do mês com um discurso contra a Europa e a entrada de imigrantes.

Ele afirmou que a legenda busca o voto de protesto e oferece "soluções escapistas" para a crise econômica. "Não há coerência nem conteúdo no discurso deles", atacou.

Clarke foi ministro da Justiça até setembro passado, quando se tornou ministro sem pasta definida. Também integrou os governos conservadores de Thatcher (1979-90) e John Major (1990-97).


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