Folha de S. Paulo


Análise: Eleição pode marcar fim da dinastia Bhutto

Onde estão os Bhutto? O nome, que dominou a política paquistanesa, é uma ausência notável nesta eleição, vista como a mais importante desde a fundação do país, 66 anos atrás.

A República Islâmica do Paquistão, governada pelas Forças Armadas por metade da sua existência, está se preparando para a sua primeira transferência de poder de um governo democraticamente eleito para outro.

Porém, ao invés de gritar de cima dos palanques, o invisível Bilawal Bhutto Zardari, que herdou a liderança do Partido Popular do Paquistão (PPP), está em Dubai.

Os eleitores paquistaneses e analistas políticos começaram a se perguntar se esse é o começo do fim, para um partido fundado em 1967 sob Zulfikar Ali Bhutto, que, depois, foi tirado da chefia de governo e executado a mando do general Zia ul-Haq na primeira de uma série de mortes violentas em uma família que já incorporou a democracia do país.

Nesta quinta, o borracheiro Tahir Jameel se ergueu solenemente no mesmo ponto da cidade de Rawalpindi em que Benazir Bhutto, filha de Zulfikar, foi assassinada, em dezembro de 2007. Ele disse que foi ao último dia de campanha para orar pela líder, famosa pela defesa da democracia. Mas ele não vai votar no PPP, disse.

"O partido que representava esperança para os pobres do Paquistão está, infelizmente, morto", disse Jameel, 60, declarando o fim da lealdade aos Bhutto em sua família, após três gerações.

Ele, a mulher e seus quatro filhos votarão no Movimento da Justiça do Paquistão do imã Khan, uma estrela do críquete que entrou para a política, na esperança de que o líder inexperiente e sua promessa de novidade e de frescor, melhore a vida das pessoas comuns.

VANTAGEM

Há poucos meses, especialistas apostavam que o PPP --liderado por Asif Ali Zardari, o viúvo rico de Benazir Bhutto e pelo filho do casal, Bilawal-- ficaria em segundo, facilmente, atrás da Liga Paquistanesa Muçulmana, de Nawaz Sharif.

Os candidatos do PPP ainda devem prevalecer no bastião do partido, na província rural de Sindh, mas a frágil campanha nas demais regiões e a volta de Khan levou alguns a colocaram o partido em terceiro, no panorama mundial.

O maior problema do partido está sua performance como líder da coalizão, nos últimos cinco anos. Eleito em 2008 em uma onda de simpatia após a morte de Bhutto, o PPP recebeu o crédito de reformar a Constituição e de fortalecer a democracia eleitoral, mas é acusado de corrupção e de fracassar em resgatar a economia e em garantir abastecimento de energia elétrica.

Há, ainda, a falta de um líder plausível. Aos 24 anos, Bilawal é jovem demais para ser membro do Parlamento, e está distante de audiências públicas por medo de uma tentativa de assassinato. O medo é justificado: nesta quinta, militantes do Taleban atacaram militantes do PPP em Multan e capturaram o candidato Ali Haider Gilani, filho de um ex-primeiro-ministro.

Mas o próprio Zardari é tão impopular que o partido não ousa usar sua casa no material de campanha, e se limitam ao ausente Bilawal e aos mártires mortos, Benazir e o pai dela.


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