Folha de S. Paulo


Ex-ditador da Guatemala é condenado por genocídio

Um tribunal da Guatemala condenou, nesta sexta-feira, o ex-ditador Efrain Ríos Montt por genocídio e crimes contra a humanidade durante a época mais sangrenta da guerra civil que atingiu o país por 36 anos --cerca de 250 mil pessoas morreram ou desapareceram durante o conflito.

Ríos Montt foi condenado a 50 anos anos de prisão por genocídio e mais 30 anos por outros crimes contra a humanidade. A juíza também determinou a revogação da prisão domiciliar do réu --que estava presente na audiência-- e seu ingresso em um presídio.

Essa é a primeira vez que um ex-chefe de estado é considerado culpado por genocídio em seu próprio país. O genocídio é o crime mais grave reconhecido pelo Direito Internacional, mas, ainda assim, um dos mais difíceis de provar.

"Os atos de José Efraín Ríos Montt se enquadram em genocídio (...) A pena correspondente deve ser imposta", anunciou a juíza Jazmín Barrios, titular do Tribunal Primeiro A de Maior Risco, ao ler o veredito, ao qual ainda cabe recurso.

Jorge Dan Lopez /Reuters
Ex-ditador da Guatemala, Efrain Ríos Montt (ao centro), chega ao tribunal para o anúncio de sua sentença
Ex-ditador da Guatemala, Efrain Ríos Montt (ao centro), chega ao tribunal para o anúncio de sua sentença

Ríos Montt, 86, chegou ao poder em 1982 e é acusado de comandar o tropas que massacraram milhares de indígenas.

Ele se manifestou sobre a sentença, que qualificou de "um show político" e disse que vai recorrer.

"É um show político internacional que vai afetar a alma do povo guatemalteco, mas estamos em paz porque jamais derramamos ou manchamos as mãos com o sangue dos nossos irmãos", disse Ríos Montt em sua primeira reação à sentença, em meio à euforia dos familiares das vítimas dos massacres.

Segundo promotores, ele ignorou o fato de que soldados usaram estupros, torturas e incêndios para intimidar rebeldes de esquerda durante seu governo, que durou até 1983.

"[Ríos Montt] tinha pleno conhecimento de tudo o que estava acontecendo, e não fez nada para que isso parasse", disse Barríos.

Ele foi julgado pela morte de pelo menos 1,771 membros da etnia indígena Maya Ixil.

Durante o julgamento, o militar negou os fatos: "eu me declaro inocente, nunca tive a intenção, o propósito de destruir nenhuma etnia nacional (...). Não sou genocida".


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