Folha de S. Paulo


Eleição de Azevêdo reforça debate sobre guerra cambial, diz secretário

O secretário-executivo adjunto do Ministério do Desenvolvimento, Ricardo Schaefer, afirmou que a eleição de Roberto Azevêdo para a OMC (Organização Mundial de Comércio) reforçará o diálogo sobre os efeitos da guerra cambial para os paises emergentes.

Ao desvalorizarem suas moedas propositalmente, os países ricos tornam seus produtos mais baratos no mercado internacional. Por consequência, os produtos de países como o Brasil perdem competitividade frente aos importados.

"Agora que o embaixador Roberto Azevêdo ganhou a eleição da OMC é uma oportunidade para se levantar o tema da distorção que o câmbio exerce sobre o comércio", disse Schaefer, durante seminário sobre siderurgia no Rio, nesta quarta.

Segundo o secretário, a desvalorização do câmbio de outros países tira a eficácia das tarifas de importação criadas pelo governo brasileiro como forma de proteção da indústria nacional.

Ele quis dizer que em alguns casos o produto importado mantém sua competitividade em relação ao produto nacional mesmo com as taxas de importação.

"As políticas monetárias expansionistas principalmente dos países desenvolvidos têm causado uma valorização excessiva do câmbio brasileiro e com isso vêm afetando a indústria nacional. Nós precisamos dialogar porque isso acaba esterilizando a política tarifária e esse instrumento de proteção à indústria que temos", disse.

OMC

O brasileiro Roberto Azevêdo, 55, foi eleito na terça-feira (7) como diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). É a primeira vez em que um latino-americano é eleito para um mandato completo de quatro anos.

Na última fase da disputa, Azevêdo derrotou o mexicano Herminio Blanco, 62, e trouxe ao Brasil uma de suas maiores vitórias diplomáticas. A decisão foi tomada em Genebra (Suíça) com a participação dos 159 países que integram a entidade.

O diplomata começou a carreira no Itamaraty em 1984 e foi o principal assessor econômico do então chanceler Luiz Felipe Lampreia de 1995 a 1997. Participou, em 2001, da criação da Coordenação-Geral de Contenciosos do Itamaraty, que dirigiu por quatro anos.

Em 2005, ele se tornou o chefe do departamento econômico do ministério e, de 2006 a 2008, foi subsecretário geral de assuntos econômicos.

Foi em 2009, quando já estava à frente da representação na OMC, que o órgão autorizou o Brasil a retaliar os EUA pelos subsídios ao algodão.

O Brasil ganhou papel predominante na OMC a partir de 2003, durante o governo Lula (2003-2010), e se tornou um dos maiores negociadores junto da UE, do Japão, da China, da Índia, dos EUA e da Austrália.

O país defende um enfoque gradual para derrubar barreiras comerciais e um grande papel para o governo na regulação do comércio, o que já provocou queixas de países ricos, como os EUA e o Japão, e de companheiros emergentes, como a China e a Coreia do Sul.


Endereço da página: