A Itália pode conseguir uma recuperação econômica sem aumentar sua dívida pública, disse o primeiro-ministro Enrico Letta nesta segunda-feira, antes de reunião com o presidente de governo espanhol, Mariano Rajoy.
O encontro servirá para que Letta, partidário da diminuição das medidas de austeridade, consiga mais apoio para buscar mudanças na política europeia. Além do italiano, o francês François Hollande também defende o enfoque no crescimento.
As declarações de Letta são feitas no mesmo dia em que são divulgados dados econômicos que mostram que a recessão italiana está perdendo força. No entanto, a economia continua com a previsão de encolher fortemente pelo segundo ano consecutivo.
Letta, que comanda uma ampla coalizão formada após dois meses de impasse político, está sob crescentes pressões para cortar impostos e estimular a economia, mas sem violar os compromissos que assumiu com a União Euripeia.
"É possível criar crescimento sem incorrer em dívidas. Outros países já provaram isso, sei muito bem que é difícil, mas esse é o objetivo", disse Letta a jornalistas em Milão.
"Infelizmente, somos um exemplo concreto de que aumentar a dívida não significa estimular o crescimento, porque em todos esses anos criamos muita dívida sem crescer."
Letta vem percorrendo a Europa desde que assumiu o cargo, na semana passada, pedindo que a UE passe a dar mais ênfase ao crescimento do que à austeridade.
Na segunda-feira, ele vai se reunir com o primeiro-ministro espanhol Rajoy. Ele descreveu a Espanha, que tem uma das maiores taxas de desemprego da região, como "um aliado natural para fazer da Europa um continente que preste atenção ao crescimento e aos problemas sociais".
A Itália é há mais de uma década a economia que menos cresce na zona do euro, e sua dívida pública, que no ano passado ficou em 127% do PIB, é a segunda maior de região, atrás da grega.
Domesticamente, Letta está tendo de se equilibrar entre as diferentes demandas dentro do seu governo.
No domingo, o vice-ministro da Economia, Stefano Fassina, entrou em rota de colisão com o premiê ao declarar que a Itália deveria permitir que seu déficit cresça neste ano, e pedir à UE que conceda dois anos adicionais no seu prazo para que o país limite seu deficit a 3% do PIB.
Fassina, do Partido Democrático, de centro-esquerda (o mesmo de Letta), ecoou apelos semelhantes do líder centro-direitista Silvio Berlusconi, e contradisse o ministro da Economia, Fabrizio Saccomanni, que descartou na semana passada qualquer renegociação das metas orçamentárias italianas.