Para os operadores, só uma das coisas que o Banco Central Europeu fez ontem era importante --e não se trata do corte de juros. Foi o comentário de Mario Draghi de que, tecnicamente, o BCE está preparado para taxa negativa de juros sobre depósitos.
Houve reação do mercado. O euro caiu 1,50 centavo de dólar ante a moeda americana, e as ações dos bancos da eurozona caíram 4% (antes da recuperação parcial). Títulos de Alemanha, Bélgica, Finlândia e França bateram recordes de baixa.
O BCE e a maior parte da Europa têm por foco a taxa de refinanciamento, reduzida para 0,5%. Mas ela já não ocupa posição central quanto ao custo do dinheiro.
Hoje, esse papel é dos juros que o BCE paga sobre os € 121 bilhões de liquidez excedente que fluem de volta para ele a cada noite. É essa taxa "" zero desde 2012 "" que importa aos bancos ao escolherem se emprestam dinheiro ou o devolvem ao BCE.
Adotar a taxa negativa seria o corte que importaria, como mostrou o mercado; a redução na taxa de juros mais acompanhada tem pouco mais que valor simbólico.
Mas taxas negativas acarretam problemas. O maior desses pode se provar popular com políticos: elas equivalem a um imposto coletivo sobre bancos, já que o excedente de euros tem de terminar ou como dinheiro físico ou de volta aos cofres do BCE.
O outro grande risco é que os bancos optem por acumular notas de € 500 em seus cofres em lugar de aceitar uma taxa negativa.
Tradução de PAULO MIGLIACCI.