Folha de S. Paulo


Suspeito por explosões em Boston diz que ataque foi motivado por guerras dos EUA

Dzhokhar Tsarnaev, 19, o sobrevivente dos dois irmãos acusados pelo atentado na maratona de Boston, disse que foi motivado pelas guerras promovidas pelos americanos no Iraque e no Afeganistão e por crenças religiosas de que deveria abraçar uma guerra santa contra os Estados Unidos.

Segundo fontes no governo americano relataram ao jornal "Washington Post" e à rede CNN, Tsarnaev negou envolvimento com organizações terroristas internacionais no atentado que matou três pessoas e feriu mais de 250 na segunda-feira da semana passada. Disse que o irmão e ele organizaram os atentados sozinhos.

O hospital Beth Israel, em Boston, anunciou ontem que melhorou o estado de saúde de Tsarnaev, de grave para estável. Ele está internado lá desde que foi capturado na sexta-feira com ferimentos na cabeça, pescoço, pernas e mão. No mesmo hospital são tratadas 11 vítimas do atentado em estado grave.

O jovem, entubado desde que foi internado na sexta-feira passada após ser detido, começou a falar, segundo a emissora "ABC".

De acordo com fontes oficiais citadas pelo jornal "The Boston Globe", naquele mesmo domingo Dzhokhar contou aos investigadores que ele e seu irmão colocaram e detonaram as duas bombas que explodiram durante a popular maratona de Boston, no último dia 15.

Os irmãos prepararam os atentados por vários meses. Segundo o jornal "The New York Times", Tamerlan Tsarnaev, o irmão mais velho de Dzhokhar morto em tiroteio com a polícia, teria comprado explosivos em uma loja em Seabrook, a uma hora de Boston. O dono da loja disse ao jornal que Tamerlan pediu "o mesmo que 90% dos compradores do sexo masculino: qual é a coisa mais poderosa que vocês têm aqui?".

As explosões mataram três pessoas, entre elas um menino de oito anos, e deixaram feridas outras 282, segundo dados da Comissão de Saúde Pública de Boston divulgados hoje.

Segundo Dzhokhar, ele e o irmão mataram também um policial universitário na noite de quinta-feira, três dias depois dos atentados.

Dzhokhar confessou os crimes no domingo, antes de lhe serem lidos seus direitos básicos, conhecidos como "Miranda rights" e que incluem o de não falar com a polícia sem um advogado presente.

Nestes dois dias de interrogatórios no hospital, agentes do FBI também concluíram que os dois irmãos, de origem tchetchena, agiram sozinhos, que não tinham contatos com grupos terroristas nacionais ou estrangeiros e cometeram os atentados por motivos religiosos.

Vários conhecidos dos irmãos Tsarnaev contaram à imprensa que Tamerlan tinha adotado há algum tempo uma posição islamita extrema. Dzhokhar, que recebeu formalmente acusações como a do "uso de armas de destruição em massa" e que podem levá-lo a receber a pena de morte, disse às autoridades que seu irmão mais velho foi o idealizador dos atentados.

Aparentemente ambos se radicalizaram sem influência alheia, através de sites e por causa de sua rejeição à estratégia dos EUA no mundo muçulmano.

Funcionários familiarizados com os interrogatórios ao jovem disseram ao jornal "The Washington Post" que Dzhokhar se referiu especificamente à Guerra do Iraque, de onde os EUA retiraram suas últimas tropas em dezembro de 2011, e à do Afeganistão, onde os soldados americanos permanecerão até o final de 2014.

VIAGEM À RUSSIA
Investigadores americanos foram para o sul da Rússia para ouvir os pais dos dois acusados. Eles moram no Daguestão, uma república no Cáucaso onde atuam forças insurgentes contra militares russos.
A mãe de Dzhokhar e Tamerlan, Zubeidat Tsarnaev, disse à CNN que seus filhos não cometeram o atentado e "foram mortos por serem muçulmanos".

O FBI continua a ser muito criticado na mídia americana por não ter seguido a pista de Tamerlan, mesmo depois que o serviço de inteligência russo tivesse pedido informações sobre ele. Tamerlan esteve na Rússia entre janeiro e junho de 2012.

A Comissão de Inteligência do Senado planeja ouvir hoje diretores do FBI que terão que explicar o que ocorreu.

ANÁLISE PRELIMINAR

Uma análise preliminar dos telefones celulares e dos computadores dos dois suspeitos não apresentou indícios que eles tivessem cúmplices para cometer os atentados, segundo uma fonte da luta antiterrorista citada pela rede de TV "NBC".

Katherine Russell, a viúva de Tamerlan, cooperará com os investigadores, informaram hoje seus advogados em entrevista coletiva.

A jovem, de 24 anos e convertida ao islã, não sabia nada dos planos de seu marido e de seu cunhado, e se refugiou na casa de seus pais em Rhode Island, consternada pelo ocorrido.

A secretária de Segurança Nacional dos EUA, Janet Napolitano, afirmou hoje no Senado que as autoridades aprenderão as lições dos atentados.

"Tiraremos lições (...) As aplicaremos e sairemos disso ainda mais fortes", enfatizou Napolitano.

Com informações da Efe.


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