Folha de S. Paulo


Camargo Côrrea tenta evitar conflito similar ao da Vale em Moçambique

A 120 km da mina da Vale em Moatize, outra empresa brasileira se prepara para uma difícil missão de reassentamento de famílias. A Camargo Corrêa ganhou a concessão para construir a hidroelétrica de Mphanda Nkuwa, no rio Zambeze.

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Será um investimento total de US$ 5 bilhões, quase a metade do PIB moçambicano, na segunda maior usina do país e em um sistema de transmissão de 1.500 km integrando o norte ao sul. Para isso, a empresa terá de remover 400 famílias.

"Vamos sofrer se tivermos que sair daqui, tiramos tudo do rio", diz Razia Alberto, 35. Seu marido é pescador, e ela e os quatro filhos vivem da plantação de milho e da venda de peixe, que rende o equivalente a US$ 3 por dia.

"Todos os meus antepassados viveram aqui", diz Razia, cujo irmão morreu atacado por um crocodilo quando estava buscando água no rio. "Não sabemos o que vamos fazer da vida se formos levados para longe do rio", diz ela em nhungue, a língua local.

A Camargo ganhou a concessão para o projeto da Mphanda Nkuwa em 2007, com as empresas locais Insitec e Eletricidade de Moçambique. O plano era começá-lo no início deste ano, mas foi adiado para janeiro de 2015.

O maior obstáculo é assegurar financiamento --o crédito depende de um contrato de fornecimento da energia. O governo está negociando com a África do Sul e com outros países. "Trata-se de uma negociação longa e difícil, e garantir a venda da energia é essencial para pôr o projeto de pé", diz André Clark, vice-presidente da área internacional da construtora.

A empresa está gastando US$ 3,5 milhões com a preparação para o reassentamento, com treinamento, pesquisas de campo e outras atividades. A usina já recebeu uma licença ambiental provisória --a definitiva sai depois de pronto o plano de reassentamento, regra adotada após o caso da Vale.

"Estamos nos preparando muitos anos antes de efetivamente iniciar o processo", disse Clark. A Camargo também terá de fazer obras de infraestrutura, como estradas.

"A comunidade vive da pesca, da venda de peixe fresco e óleo de peixe e das machambas (áreas de plantações)", diz Leonildo Mussanhane, da ONG Vozes do Zambeze. "Essas pessoas precisam continuar tendo acesso ao rio." (PCM)


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