Folha de S. Paulo


Horacio Cartes é eleito presidente do Paraguai

Em seu discurso de vitória, o novo presidente do Paraguai, o colorado Horacio Cartes, disse que espera "ganhar a confiança de toda a população".

"Venceu o Paraguai e o meu compromisso é com todos os paraguaios da república", disse, diante da multidão colorada que o esperava em frente ao seu centro de campanha, num bairro abastado da capital, Assunção.

Com 81% das urnas apuradas, Cartes tinha 45,9% dos votos contra 36,8% do liberal Efraín Alegre.

Enrolado na bandeira do Paraguai e visivelmente emocionado, Cartes interrompeu o discurso logo no início, com a voz embargada. Os assessores subiram então o volume da polca (música típica paraguaia) para que o vencedor pudesse se recompor.

"Convido a oposição a trabalhar pela nação. Queremos um Paraguai para todos e (...) não discriminar por cores ou partidos", disse, no discurso de 10 minutos.

Editoria de Arte/Folhapress

Com 56% dos votos apurados e após o reconhecimento da derrota por Alegre, o TSJE (Tribunal Superior de Justiça Eleitoral) declarou oficialmente a vitória de Cartes.

Segundo o candidato liberal, o processo foi "transparente e adequado". "O povo paraguaio se pronunciou e nós respeitamos", disse. "Fizemos um esforço extraordinário, mas não foi possível [vencer]."

A participação foi de 68,5%, índice um pouco mais alto que nas eleições de 2003 e 2008.

Cartes é um megaempresário do país, dono de 26 empresas, a maioria de cigarros, e presidente do clube de futebol Libertad. Pairam sobre ele acusações de ligação com o narcotráfico e de lavagem de dinheiro. Ele nega seu envolvimento e argumenta que nunca foi formalmente acusado por elas.

Desde as 17h (18h de Brasília), quando pesquisas de boca de urna apontavam uma vantagem de mais de 14 pontos percentuais para Cartes, colorados já tomavam as ruas da capital, Assunção, buzinando e soltando fogos.

Em frente à sede do Partido Colorado, no centro da capital, e ao escritório montado pela campanha de Cartes num bairro abastado, apoiadores, vestidos de vermelho e com bandeiras do partido, já festejavam o provável retorno dos colorados ao poder, após cinco anos.

O partido conservador governou o Paraguai por 60 anos, entre 1948 e 2008.

A tranquilidade do processo eleitoral ontem só foi quebrada por uma declaração do vice-presidente do TSJE (Tribunal Superior de Justiça Eleitoral), Juan Manuel Morales, que "antecipou" a vitória colorada.

Faltando mais de cinco horas para o fechamento das urnas, ele afirmou que os resultados já apontavam um vencedor, e que a tendência era "irreversível". O presidente do TSJE, Alberto Ramírez Zambonini, logo desautorizou as declarações.

BRASIL

Antes de votar, Cartes disse que o país tem tudo para voltar a dialogar com o Brasil, um "país-irmão".

"A gente quer trabalhar com o Brasil. O Paraguai tem tudo para sentar à mesa com o Brasil, um país-irmão, pra trabalhar junto", disse Cartes, durante coletiva de imprensa na manhã deste domingo (21), em Assunção.

"Temos a maior hidrelétrica do mundo com o Brasil, e hoje temos muitas indústrias do país --o que acho que está sendo muito bom para o Brasil, porque elas estão produzindo com o custo da energia daqui", disse.

O governo brasileiro suspendeu suas relações políticas de alto nível com o Paraguai logo após o impeachment-relâmpago de Fernando Lugo, em 22 de junho de 2012, rompimento político reafirmado com a suspensão do país do Mercosul.

No dia seguinte à destituição do ex-presidente, o então embaixador brasileiro no país, Eduardo dos Santos, foi convocado pelo Itamaraty para dar explicações e não voltou mais a Assunção desde então.

Santos foi promovido a secretário-geral do Itamaraty no início deste ano, e o governo brasileiro, segundo a Folha apurou, só deverá entregar as credenciais de seu novo embaixador ao próximo governo --que assume em agosto.

Segundo Cartes, também há uma predisposição de sua parte a retornar, o quanto antes, ao Mercosul. "Hoje as fronteiras caíram e há a necessidade que os países estejam todos integrados."


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