Folha de S. Paulo


Presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro colecionou deslizes ao tentar emular Chávez

Nicolás Maduro prometeu aos eleitores: não iria mais imitar um passarinho em comícios já que seus assessores o advertiram de que não pegava bem entre os chavistas.

A confissão pública feita anteontem de que abandonaria referências a sua mais famosa frase como candidato presidencial --a de que o Hugo Chávez lhe apareceu em forma de passarinho-- é reveladora da campanha relâmpago que levará a Venezuela às urnas no domingo.

O mandatário interino, escolhido pelo antecessor como herdeiro, colecionou deslizes em horas a fio diante das câmeras e não raro constrangeu seguidores ao tentar emular o carismático Chávez com canto, dança e piadas.

"Em campanha ele é mais ou menos", diz a manicure Arnelis González, 23, que participou do último comício de Maduro ontem em Caracas, uma contundente manifestação de força do chavismo que reuniu milhares de pessoas em sete largas avenidas.

Editoria de Arte/Folhapress

Para Arnelis, o ex-chanceler quer ser Chávez, mas se perde ao falar. "Não conhecemos ele ainda. Vamos ver como vai governar."

Nas mãos dela estava um ônibus feito de papelão, com um desenho de Maduro, um mimo distribuído pela campanha para reforçar a identidade popular do candidato, ex-motorista de ônibus.

"Chávez traçou a rota, Maduro leva o volante", diz outro panfleto, um dos poucos trunfos da estratégia eleitoral governista para além da exploração da imagem e do luto de Chávez --o outro foi transformar o bigode do candidato em uma marca pop.

"É importante que ele tenha sido motorista. Mostra que não importa de onde a gente venha, podemos chegar longe", segue Arnelis, que mora na Grande Caracas e há um ano ganhou uma das 300 mil casas distribuídas pelo governo desde 2011 num mega programa habitacional.

Maduro é favorito segundo as pesquisas de opinião, mas analistas e institutos afirmam que os dias de campanha intensa prejudicaram os números do governista.

Segundo Oscar Schemel, do instituto Hinterlaces, a diferença entre ele e o opositor Henrique Capriles caiu de 18 para 10 pontos nas pesquisas da empresa.

"Maduro cometeu alguns erros, mas não muda significativamente a correlação de forças", afirma Schemel. "Não é só fervor quase religioso que liga a população à Chávez, há uma identificação com o modelo de inclusão. A oposição promete que será mais eficiente, não que mudará o modelo. O chavismo ganhou o debate ideológico."


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