Folha de S. Paulo


Novo papa não integra lista suja de associação de vítimas da pedofilia

Uma das principais associações de vítimas da pedofilia na Igreja Católica dos EUA declarou-se "grata" porque o novo papa, Francisco, não integrava a lista suja de cardeais acusados pelo grupo de compactuar com os abusos e afirmou que o novo pontífice tem uma "oportunidade".

A Snap (sigla para Rede de Sobreviventes entre os que sofreram Abusos de Padres, mas que significa também movimento ou mudança brusca) elogiou ações do argentino Jorge Bergoglio e celebrou o fato de ele não ter integrado a cúria romana, mas pediu atenção ao tema.

"Suspeitamos que aqueles que apoiam no novo papa vão descobrir e citar um passo aparentemente positivo que ele tomou em um caso de abuso", escreveu em nota David Clohessy, diretor da Snap.

"Um episódio, porém, por mais animador que pareça, não indica necessariamente um padrão. É importante que avaliemos seu histórico sobre abusos e acobertamento por todas as suas ações, não apenas um ato isolado."

Para a Snap, a Ordem dos Jesuítas -- a qual Bergoglio pertence -- tem um histórico particularmente precário em "garantir a segurança das crianças" na Igreja.

"Estamos animados como este novo papa, vindo desta ordem, tem uma enorme oportunidade e o dever de ajudar a evitar abusos."

A Snap havia feito uma lista que chamou de "Dirty Dozen" (os 12 sujos, em alusão ao título original do filme "Os Doze Condenados", de 1967).

O documento incluía vários dos papáveis mais bem cotados, como o ganense Peter Turkson, que fez comentários minimizando os abusos na África, o canadense Marc Ouellet, por se recusar a receber vítimas, e o italiano Angelo Scola, até então o favorito, também por tentar desviar a atenção da crise.

Outros citados foram o italiano Tarciso Bertoni, o hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga, o mexicano Norberto Rivera Carrera, o tcheco Dominik Duka, o argentino Leonardo Sandri e o australiano George Pell.

Três cardeais americanos -- Timothy Dolan, Donald Wuerl e Sean O'Malley, este último entre os que lideravam as apostas -- também estavam na lista, já que foi nos EUA que o escândalo estourou, no início da década passada.

Desde 2004, dezenas de dioceses americanas pediram falência por causa de acordos de indenização de vítimas. Só o arcebispado de Los Angeles pagou US$ 60 milhões a 45 vítimas em 2006.

Quatro anos antes, a Arquidiocese de Boston (hoje comandada por O'Malley) foi ré em um processo aberto por mais de 500 vítimas.

"Muito pouco foi exposto nesta crise sobre a América do Sul e a América Central", diz o comunicado da Snap, que inclui um apelo.

"Esperamos que vítimas, testemunhas e delatores na Argentina tenham coragem de dizer o que houve e como foram tratadas na diocese do novo papa."


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