Folha de S. Paulo


Mistério cerca fumaças preta e branca que anunciam papa; veja

Durante o conclave papal na Capela Sistina, o progresso será medido em branco e preto --as cores da fumaça que emergirá depois da votação, de uma chaminé de cobre que se projeta do telhado da capela. Mas a maneira pela qual essas cores são criadas continua a ser um tanto misteriosa.

Análise: Transparência será primeiro teste
Confira a cotação dos cardeais na corrida
Veja as fotos dos candidatos a papa

Funcionários do Vaticano fecharam a capela na semana passada para os preparativos, entre os quais a instalação da chaminé e de dois fornos cinzentos que se conectam a ela pela entrada principal, na porção da capela oposta ao altar.

Um dos fornos, fabricado em 1938, de formato cilíndrico, é usado para queimar as cédulas de votação. O segundo, fabricado em 2005, é usado para criar a fumaça devida --branca se um novo papa tiver sido eleito pelos 115 cardeais participantes do conclave e preta se a votação não tiver resultado em eleição. A fumaça do segundo forno se combina à daquele em que as cédulas são queimadas a caminho da chaminé.

Tradicionalmente, em caso de votação sem resultado decisivo, os funcionários do Vaticano acrescentavam palha úmida às cédulas, para produzir uma fumaça negra e fuliginosa. Mas a confusão acontecida no conclave de 1958, quando houve diversos alarmes falsos --aparentemente porque a palha não pegou fogo-- levou o Vaticano a procurar um sistema menos falível, com o uso de produtos químicos.

Em 2005, os funcionários começaram a usar cartuchos, entre os quais um rotulado "fumo bianco", para criar a fumaça branca que anunciou a eleição de Bento 16. O cartucho produziria fumaça por seis minutos e meio.

Mesmo assim, naquele ano houve alguma confusão sobre a cor da fumaça que estava emanando da chaminé, e os sinos da Basílica de São Pedro soaram para confirmar a eleição.

Editoria de Arte/Folhapress

O Vaticano voltará a soar os sinos neste ano, para reforçar a fumaça como sinalização de resultado. O padre Thomas Rosica, porta-voz do Vaticano, se limitou a dizer, quanto aos produtos químicos que os cartuchos contém, que foram preparados por técnicos "com diversos elementos diferentes".

Lydia Megumi/Editoria de Arte/Folhapress

Ben Baxter, diretor da Pea Soup Limited, uma fornecedora de máquinas de fumaça em Ingleby Barwick, Inglaterra, disse que o principal componente químico era provavelmente o clorato de potássio, que se inflama facilmente --basta a carga de uma bateria de nove volts-- e produz finas partículas brancas enquanto se queima. "É o que vendemos em nossos cartuchos e granadas de fumaça", ele diz.

O cartucho preto, segundo ele, provavelmente também empregará cloreto de potássio, acompanhado por um corante para colorir as partículas. "É menos perigoso do que qualquer material usado para criar fumaça preta no passado", diz.

Baxter afirmou que o procedimento mais provável seria colocar um cartucho no forno mais novo, fechar a porta e detoná-lo por aplicação de uma corrente elétrica. Desde que a chaminé esteja corretamente instalada, não deve haver vazamento de fumaça para a capela ou incômodo para os cardeais --bem como nenhum dano aos inestimáveis afrescos de Michelangelo que decoram o teto.

Para as autoridades do Vaticano, bastará escolher o cartucho certo. "Esperemos que quem os embalou tenha colocado o rótulo certo", disse Baxter.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página:

Links no texto: