Folha de S. Paulo


Angola suspende atividades da Universal e mais seis igrejas

O governo de Angola suspendeu as atividades da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) naquele país pelos próximos 60 dias após ter responsabilizado a instituição pela morte de 16 pessoas em um acidente no estádio da Cidadela Desportiva, em Luanda, no último dia 31 de dezembro. Outras seis igrejas evangélicas também tiveram as atividades suspensas.

A decisão foi anunciada no sábado (2) e, segundo reportagem do angolano "Jornal de Angola", duas unidades da Universal fecharam já no domingo (3).

Conforme a agência estatal de notícias angolana, Angop (Angola Press), a comissão de inquérito criada para investigar o episódio concluiu que ele foi resultado da situação de superlotação dentro e fora do estádio, que foi, por sua vez, provocada por "propaganda enganosa".

O problema, segundo a comissão de inquérito, estava no slogan do evento, batizado de "Dia do Fim", que afirmava: "Venha dar um fim a todos os problemas que estão na sua vida; doença, miséria, desemprego, feitiçaria, inveja, problemas na família, separação, dívidas, etc. Traga toda a sua família".

Segundo a Angop, os responsáveis pela investigação concluíram que o slogan "criou no seio dos fiéis e não só uma enorme expectativa de verem resolvidos os seus problemas, tendo por isso atraído para o local do evento um elevado número de pessoas, entre velhos, crianças e doentes".

Concluíram ainda que o slogan configura propaganda enganosa porque "continha informações falsas, susceptíveis de alarmar o espírito do público e induzi-lo em erro".

O relatório final do inquérito também afirma, ainda de acordo com a Angop, que, apesar de ter sido avisada de que o estádio só comportava 30 mil pessoas, a Universal fez planos para receber 152.600.

"O inquérito apurou", continua a Angop, "que a projeção feita pela Igreja quanto ao número de pessoas para aquele recinto não foi realista e pecou por excesso". O enorme público presente desorganizou a movimentação no estádio e ainda dificultou o trabalho da polícia e outros serviços de proteção aos cidadãos, ainda conforme as conclusões do governo angolano.

Conforme o documento, o evento começaria às 20h, mas o local já estava lotado às 18h, e a Universal, apesar de ter ordenado o fechamento dos portões, manteve aberto o portão VIP, para onde se seguiu a população. Às 18h30, os que esperavam em fila escutaram cânticos e começaram a forçar a entrada, supondo que o evento já tivesse começado.

Os fiéis, então, começaram a se apertar e a "desmaiar em cadeia", pois o túnel de acesso era mal iluminado e inclinado e ainda estava escorregadio, porque ocorria distribuição de água benta aos presentes, ainda segundo a investigação. Parte das vítimas já estava doente ou em jejum.

Com base no relatório, o governo decidiu reforçar as normas para a realização de eventos em estádios e ainda suspendeu as igrejas, que atuavam irregularmente. Além da Universal, estão suspensas a Igreja Mundial do Poder de Deus, a Mundial do Reino de Deus, a Mundial Internacional, a Mundial da Promessa de Deus, a Mundial Renovada e a Igreja Evangélica Pentecostal Nova Jerusalém.

OUTRO LADO

Em nota, a assessoria da Universal em São Paulo informou que a instituição está "legalmente estabelecida" em Angola desde 1992 e "tem colaborado firmemente com as autoridades locais nos esclarecimentos das causas" das mortes. No texto, ainda lamentou que pastores tenham sido detidos e que carros de polícia tenham sido estacionados perto de igrejas.

Leia abaixo a íntegra da nota:

"Com referência à suspensão das atividades da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), divulgada pelo governo da República de Angola, vimos a público esclarecer que:

1. A IURD está legalmente estabelecida em Angola desde 1992, conforme atestam documentos oficiais expedidos pelo país (em anexo), onde mantém 230 templos, 430 pastores e cerca de 500 mil fiéis.

2. A direção da Igreja Universal de Angola tem colaborado firmemente com as autoridades locais no esclarecimento das causas do terrível episódio ocorrido em 31 de dezembro de 2012 no Estádio da Cidadela Desportiva, em Luanda, e prestou o apoio possível aos feridos e aos familiares das vítimas.

3. Até o presente momento, não conhecemos oficialmente o teor da decisão, nem sua extensão. Temos ciência somente pelo "Comunicado de Imprensa" distribuído pelas autoridades locais a agências de notícias.

4. Lamentamos, ainda, notícias que chegam da detenção de pastores da IURD em diversas localidades de Angola, bem como da presença de viaturas policiais em nossos templos.

5. Respeitamos profundamente as leis e as autoridades constituídas nos mais de 180 países onde atuamos. Assim, nos termos da legislação angolana, estamos tomando as medidas cabíveis para restabelecer o pleno funcionamento da Igreja naquele país, certos de que a liberdade de religião, consagrada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e reiterada expressamente na Constituição da República de Angola, prevalecerá."


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