Folha de S. Paulo


Após ameaça de sair da União Europeia, Cameron perde votos

A ameaça de tirar o Reino Unido da União Europeia não surtiu o efeito desejado pelo primeiro-ministro David Cameron, que tenta recuperar popularidade enquanto a economia britânica volta a flertar com a recessão.

Depois de uma leve melhora nas pesquisas, ele viu o Partido Trabalhista retomar a vantagem de 12 pontos nas intenções de voto para as eleições britânicas de 2015.

No Partido Conservador, uma ala insatisfeita já sonha até em substituí-lo pelo parlamentar negro Adam Afriyie.

Cameron fez uma aposta política ousada no dia 23, ao prometer um plebiscito sobre a permanência ou não do país no bloco europeu.

O gesto agradou ao eleitorado que vota nos conservadores, mas ameaça migrar para o partido nacionalista Ukip, cuja bandeira é a ruptura com os países vizinhos.

O primeiro-ministro chegou a reduzir a desvantagem nas pesquisas para seis pontos, mas virou alvo de críticas pela mudança de discurso, já que recusava a ideia do plebiscito até o ano passado.

Ele foi tratado como oportunista pela oposição e até pelo vice-premiê Nick Clegg, do Partido Liberal-Democrata, que o acusou de pôr interesses nacionais em risco. Para investidores, a possibilidade de o Reino Unido deixar o mercado comum pode afugentar capitais até 2017, ano previsto para o plebiscito.

Na semana passada, os trabalhistas recuperaram a liderança de 12 pontos, segundo estudo do instituto YouGov.

Cameron agora terá que lidar com outra ameaça de rebelião dos aliados. Desta vez, a polêmica é o projeto do governo que prevê a legalização do casamento gay e deve passar amanhã pelo primeiro teste na Câmara dos Comuns.

Ontem, uma ala mais à direita do Partido Conservador fez um apelo pelo adiamento da votação. Segundo estimativas da imprensa, 60% dos parlamentares da legenda devem se opor à proposta.

"Uma parte expressiva do partido não vê Cameron como um conservador autêntico. Ele defende algumas ideias consideradas muito liberais por aliados", diz o cientista político Thomas Raines, do centro de estudos Chatham House.

Para a maioria dos analistas, o principal desafio do primeiro-ministro é fazer a economia voltar a crescer. Se o PIB britânico cair novamente neste primeiro trimestre, o país entrará em recessão pela terceira vez desde 2008.


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