Folha de S. Paulo


FMI censura Argentina por dados econômicos pouco confiáveis

O FMI censurou a Argentina publicamente, nesta sexta (1º), pela falta de precisão dos dados de inflação e crescimento econômico divulgados pelo governo do país. É a primeira vez na história da entidade que um país é advertido dessa forma.

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A decisão já era esperada, uma vez que a diretora do Fundo, Christine Lagarde, vem chamando a atenção do governo argentino nos últimos meses. Em dezembro, ela já havia apresentado um relatório sobre a má qualidade das estatísticas argentinas. A Argentina já havia recebido outras três advertências, uma em julho de 2011, depois da visita de técnicos do órgão, e outra em setembro de 2012, em que se apontava que não havia havido progressos do país nesse sentido.

A declaração do fundo não tem efeitos imediatos, mas economistas apontam que a declaração de censura é o primeiro passo no procedimento previsto pelo FMI para expulsar um país que não apresenta estatísticas confiáveis do organismo multilateral. O segundo passo seria impedir o acesso a empréstimos, e o terceiro, perder o direito a voto.

"O Comitê Executivo [do fundo] considerou o progresso da Argentina em implementar as medidas de correção não foram suficientes", diz o comunicado do FMI. A entidade explica que solicitou ao país índices mais confiáveis sobre seu PIB e o Índice de Preços ao Consumidor da Grande Buenos Aires, que mede a inflação, em setembro de 2012, e exige que sejam tomadas providências antes de setembro de 2013.

Segundo a Bloomberg, a Argentina se torna, assim, o primeiro país a ser criticado pelo FMI por índices econômicos oficiais pouco confiáveis. A Tchecoslováquia teria rompido com a instituição em 1984 pelo mesmo motivo, e Cuba, em 64, quando não havia a regra do aviso prévio.

Economistas e políticos colocam em dúvida estatísticas oficiais argentinas desde 2007, quando Néstor Kirchner (1950-2010), então presidente, interveio no serviço (Idec) e substituiu economistas de carreira na instituição. Outros números do órgão são questionados, como o que mede a pobreza e o valor da cesta básica. Seu governo e o de sua sucessora, sua viúva Cristina Kirchner, negam que o Idec manipule os dados.

Os índices variam enormemente desde então. Em 2012, consultorias privadas afirmam que a Argentina sofreu 25,6% de inflação; o governo afirma que a alta foi de 10,8%.

De acordo com o comunicado emitido ontem, o Fundo deverá informar novamente o diretório sobre o caso no próximo dia 13 de novembro. "Nesse momento, o diretório revisará novamente o tema e a resposta argentina em linha com os procedimentos do fundo."


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